Coma. Cama. - In Contos do dia e da noite
Caminhava,distraidamente, por aquelas ruas floridas, calmas, de um ar revigorante; as pessoas em pequenos grupos conversavam em tom moderado, cujos assuntos eram um tanto filosóficos; conversas construtivas; não se ouvia ninguém comentar a vida do próximo,nem mesmo do astro da moda,nem de roupas de marca ou algo assim.
Parou,interessado que ficou,naqueles assuntos inéditos para ele. Onde,
neste mundo, alguém conversaria, discutiria tais temas em que as ideias recorrentes; as preocupações mostráveis denotavam a ajuda ao próximo.
A caridade presente naqueles lábios não pareciam ser falsas, pareciam, antes, propósitos, metas a serem atingidas.
Reparou que ninguém ali abria a boca para apontar o dedo,remexer na ferida do outro, antes, entendiam e procuravam consolar e ajudar.
Estranhava ele,pois,durante toda a sua vida nunca conhecera relações
tão honestas,sinceras, baseadas no amor puro que não requer troca.
Tudo ali o interessava e, mesmo, chegava a sentir-se feliz,apenas,por
estar ao lado daquelas pessoas a ouvir suas conversas.
Refletindo no que via e compreendia,percebeu que aquilo tudo se possível fosse seria o Paraíso: as pessoas se amavam independente da cor, credo, partidos.Respeitavam-se.
Sentiu-se, de repente, estar caindo,e, num esforço sobre-humano, procurou reagir e nesta reação abriu os olhos.
Surpreendeu-se, a sua volta, os familiares: pais,irmãos, avós; todos ali presente.Observou, então, que estava em uma cama em um quarto todo branco; algumas pessoas de avental branco; um senhor próximo de si usava um estetoscópio. Estava num hospital. Soube,depois, o coma, a cama.
Chorou lágrimas pesadas. Sem saber porque sentia saudades daquele sonho, do lugar onde estivera e das pessoas das quais ouvira sempre
palavras de esperança.
- Por que voltei ?. Por que acordei ?.