Vivo ? - In Contos sem data
Figuras sem rostos. Vozes profusas. Um riso insistente e irritante magoa-me os ouvidos. Gestos sem donos de remota sonoridade familiar. Os livros.
A sala muda. As paredes selvagens,hostis,frias de decadência onde se vislumbram sombras de outrora tinta fresca. O silencio pesa, oprime-me. O mundo grita.Adormece. É hora da novela.
Encolho-me frente às minhas reminiscencias. O presente vivo dilacera-me como um animal feroz e faminto que despedaça sua presa. O presente exaure-me. Vivo porque vivo.
O presente vive de mim.
Vivo porque vivo.
Esquecida a sala de seus donos,esquecida a sala do mundo. Eis o nada.
Absorve-me.
Vivo porque vivo.
Os olhos nublam-se. - Serão lágrimas ?.
Resgato-me morto.
- São.
Vivo porque vivo.