O possível e o im
A maioria das pessoas se conforma em acreditar que o impossível não pode ser feito, mas esta não é a regra geral. Há uns poucos, contados nos dedos, que não pensam assim.
Estes acreditam que a simples adição do prefixo “im” ao “possível” não limita a realidade e o seu significado. Para estas pessoas, o prefixo, por si, não pode negar a existência a todo um leque de fatos que não são bem vistos pelo bom senso, ou senso comum.
A maioria consegue aceitar que a colocação do “im” – um capricho da realidade, como mencionado – concede a não existência aos fatos opostos aos que são parte da realidade, mas a verdade, na sua essência, não é que o impossível não pode ser feito, mas que ele não deve ser feito. O impossível não deve ser tentado, pois, se tentado, poderá vir a ser feito – com extrema dificuldade, é claro – mas mesmo assim feito, e as conseqüências podem ser impossíveis.
Houve uma pessoa que cruzou esta barreira. Ela não acreditava no impossível e era de grande importância na minoria que não concedia ao prefixo “im” o poder da negação do possível.
Ela tanto tentou o impossível que o fez. Conseguiu alcançá-lo, provando a incapacidade do prefixo “im”, mas ignorando que o que não pode ser feito não deve ser feito.
Quando ela percebeu que havia vencido a barreira que tanto desejara, entrou em êxtase e começou a testar as possibilidades do impossível. As delícias de não poder fazer o que era possível.
Ela não estava dormindo ou acordada, pois ambas as situações são possíveis, e ela só podia fazer o impossível.
Ela não estava no passado, no presente ou no futuro, mas em uma quarta situação, que não pertencia ao domínio do possível.
Ela não sentia fome ou saciedade, não podia falar ou se calar, não podia assumir qualquer das situações possíveis, mas sempre um estado impossível, desconhecido para a maioria de nós.
Assim ela viveu, por um longo tempo, mas incontável, pois contar é possível. E não mais achou que conseguiria viver desta forma, pois nem mesmo podia se cansar (já que cansar é possível) de viver no estado intermediário do impossível. Quis voltar, mas não podia sequer tentar, pois tentar também é possível e percebeu (sendo esta uma expressão apenas para a nossa compreensão, pois perceber, por si, é possível e também vedado a pessoa em questão) por que o impossível havia sido criado.
E percebeu mais além: não é que ele não podia ser feito, mas que não devia ser feito.
Ela achou que fosse enlouquecer se continuasse no impossível, e resolveu pelo suicídio.
Mas foi incapaz de ambos, pois enlouquecer e se suicidar é possível.