O apuro que passei
O Color de Melo segurou a poupança e o Brasil quase parou. Construção civil praticamente chegou a estaca zero. Eu trabalhava de pedreiro. Para não matar de fome a minha família, fui forçado a trabalhar de caseiro no orquidário.
E logo fiz amizade com outro caseiro. O orquidário é um muito grande. Precisa de dois caseiros para tomarem conta. Um na frente e outro nos fundos. Por problema particular, este caseiro pediu demissão.
O gerente pediu que eu arrumasse outro para substituí-lo.
Como eu era muito conhecido na cidade, esparrame a notícia.
Aparece um sr. de bigode muito feio, mal encarado, me implorando que eu o apresentasse para o chefe; dizendo que estava desesperado para trabalhar; tinha muitos filhos e, era da roça acostumado com o pesado. O homem tinha um aspecto físico bem avantajado.
Falei com o gerente; o mesmo perguntou-me se eu o conhecia. Com pena do homem, menti, falei que sim.
Foi só ele começar, já começou com puxamento de saco que ninguém aguentava. Falava mal de todo mundo. Ninguém prestava para ele. Sua esposa era uma coitada. Trabalhava como uma danada!
Vieram me contar que ele me entregou para o dono, dizendo que já tinha falado de mim para o gerente e o mesmo não deu bola!
Eu não engolir em seco; fui tirar satisfação. Mesmo com o coração saindo pela boca de medo, apontei o dedo na cara dele e disse:_ Eu arrumei serviço pra você e com essa falsidade que me trata? Todo mundo tinha paz; agora que você mal acabou de entrar já está fazendo disso aqui um inferno!
O homem bufava e rugia como um leão. Me chamou de marica, de fofoqueiro e tudo o que achava que tinha direito.
Eu apenas lhe disse:_ pode me chamar do que quiser, mas não ponha a mão em mim porque eu não me responsabilizarei pelos meus atos. Aí vieram várias pessoas e apaziguaram-nos. Ele prometeu que ia me pegar.
O homem era ruim. Na outra semana ele bebeu e ficou em volta da minha casa me provocando a noite inteira não deixando nós dormir. Eu ia sair com um penado para matá-lo, minha esposa pediu pelo amor de Deus!
Meu concunhado ficou sabendo da história, foi buscar a minha mudança. Razão pela qual hoje resido em Itanhandu.
Passado alguns anos, fui à festa da lagoa nova, que uma festa muito famosa, três dias de festança, encontrei o cara lá. Me pediu desculpa alegando que a cachaça que o deixava doido; que agora estava recuperado porque não bebia mais. Eu o perdoei, mas a mágoa ficou.
Se fosse a fé da minha esposa, hoje eu era um criminoso; não por coragem, mas por medo.