Trinta e dois e pleonasmo

Pelo menos agora Mourão teria tempo para

concluir seu curso superior. É. Nem tudo era tão ruim

assim. Afinal, era como dizia a música ...a case of do or

die... Inevitabilidades do inevitável. De modo algum,

tinha Mourão um plano traçado nesse sentido; a vida é

assim, costumava afirmar seu avô, reiterando o tio: É a

vida; É pois tem de ser, é a vida; reiteração do filho, ele

próprio.

O curso superior estava na fronteira daquele

patamar no qual se sabe o que quer e, o outro, naquele

se acha que se sabe o que quer. Todavia, era tudo o

que Mourão necessitava naquele momento. Excitação,

nem que fosse intelectual.

--- A mensalidade é paga com boleto?

--- Sim.

--- E em que banco?

--- Qualquer um na rede bancária, senhor.

--- Tem fogo?

--- ãnh?

--- Tem fogo? Pro cigarro?

--- Não é permitido fumar nesse recinto, senhor.

--- Ãnh. Obrigado. Tchau.

Pagou, recebeu o boleto devidamente ticado e

voltou à casa onde fazia morada naquela

avenida;conhecia tâo bem que nem poderia errar

mesmo que quisesse.Todavia,seria complicado voltar à

modorra do dia-a-dia sem Jurema.Solenidade das

solenidades seria tomar café da manhã sem creme de

chantilly e a barra de chocolate. .Malogro dos malogros

seria ler o jornal sem o beijo de bom dia da sua

esposa.Fracasso dos fracassos seria lembrar-se

daquela cuja presença tinha sido, em todos os

sentidos,a razão do seu existir para ... sempre? Saíra

de casa sem café e como diz o ditado popular,"saco

vazio...";quase tinha discutido com a atendente do

curso e isso era imperdoável num homem com mais de

30 anos de idade. 32 prá ser mais pre-ordenado do que

a atendente. Moto-contínuo, ele estaria preso à uma

realidade totalmente diversa daquela encontrada no dia

da separação.

--- Quando começa o curso? -- perguntou arfando.

--- Dia 11.

--- ...tinha dia melhor do que esse, minha senhora?

--- Como?

--- Eh eh eh.

--- Fique sabendo que tenho apenas 23 anos.

--- E eu...

--- Sei. Mais do dobro da sua idade.--disse ela fazendo

um beicinho malicioso.

--- 32. Leia meus lábios:T-r-i-n-t-a e d-o-i-s.

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Aquela noite parecia mais uma da rotina no laboratório

fotográfico. Selecionar os filmes, revelar, aguardar, tirar

da emulsão, pendurar; nada de diverso daquilo que

ocorria sempre que havia material novo. Porém, a

escuridão do laboratório estava mais escura naquela

noite. Fosse Mourão, um gnóstico, diria que a noite

escura da alma estava prestes a acometê-lo. Como não

o era, deixou de reconhecer os sinais quando se

apresentavam tão evidentes, embora, obviamente,

paradoxais; já que ele estava à beira de um abismo, e

esquecera-se de todas as suas "obrigações"

espirituais...

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--- Quantas vezes eu preciso dizer, Sr. Mourão: Não se

pode fumar aqui; nesse recinto!

--- Tudo bem. Compreendo sua preocupação com a

saúde dos mais jovens...

--- Não, não compreende. Normas, são normas, Sr.

Mourão.

--- Tá bom. Pode parar. Já joguei o cigarro fora.

Apesar de todos os reveses, Mourão tinha lá

suas vitórias e até triunfos, quando não, verdadeiras

glórias. Eram raras, mas aconteciam.

--- Espeta um.

--- Como é que é?

--- Espeta um. Er... veja... --- disse Mourão adiantandose

a moça que ia pular encima dele --- esse

microcomputador merece mais um pente.

--- Sem graça. E eu com isso?

--- Bom. Sei lá. Talvez receba um aumento salarial por

essa sugestão, vai saber?

--- É. Gostei. Quer dizer, obrigada.

--- Disponha.

Em qualquer espécie de tarefa tendemos a

elaborar um plano anterior à ação propriamente dita.

Senão, vejamos: Os 12 trabalhos de Hércules não

foram executados de uma vez.... Era nisso que Mourão

delineava suas, já combalidas, estratégias, quando

deparara-se com Jurema anos atrás. Cabelos

castanhos com ondulações, olhos castanhos escuros

de um brilho intenso. Cintura definida por uma

malhação cuidadosa; fruto, além do mais, de ginástica

na piscina e yoga.

De nenhum modo, esse encontro iria frustrar

às garras do destino. Mourão aproximava-se

perigosamente de seu " derradeiro dia" ou do seu teste

final de transmutação. Porém, um adiamento lhe foi

concedido por aquela a quem chamava-se a Deusa da

Morte, Hela; ou seria apenas uma Valquíria mesmo e

tudo estaria acabado? Nos próximos números se

delineariam os convites de Deus ou do demônio e

desse modo ouviriam-se as "trombetas do apocalipse"

(eh eh eh) ou sinos dobrariam. Não pergunte, não

pergunte. È por você, é por você.

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Pelo menos agora Mourão teria tempo para

concluir seu curso superior. É. Nem tudo era tão ruim

assim. Afinal, era como dizia a música ...a case of do or

die...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
Enviado por Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) em 06/05/2012
Código do texto: T3652571
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