Hariel, Hélida e a contenda
Vez por outra me via envolvido naquela
contenda... Nada parecia afastar-me daquilo. Não me
lembro de coisa nenhuma assemelhada em minha
vida. Afinal, tinha tomado a decisão...
-- O açúcar, por favor.
-- Aqui está. Prontinho, Hariel.
-- Obrigado.
O café era requentado e o ambiente, uma mistura de
arte decó mal planejado ou mal “plagiado” de algum
outro lugar e uma atmosfera de anos 1920 com
ventiladores de teto e, bem, todas as fotografias de
época. Numa delas se via um dirigível, alçando
vôo. Noutra uma señora requisitava um jornal ao
vendedor de jornais que gritava no meio da rua: últimas
notícias! Últimas notícias!
.
Nesse ínterim, me vi enevoado por idéias muitas,
dentre elas, a de que seria possível alcançar meus
objetivos de modo mais rápido, caso pudesse sabor de
antemão, a extensão de meus novos encantamentos.
É claro, eu sabia, naquele momento, naquele singular
momento, estaria totalmente fora de questão, uma
abordagem a meus mestres da magia.
Por injustiça, por ingratidão, por desespero ou por
cobiça de conhecimento mesmo (avareza financeira
não passava pela minha cabeça naquele isntante) não
aventava aquela possibilidade.
A contenda, em questão, tratava-se de minha decisão a
respeito de tornar-me um magista, servo de Nosso
Senhor . Embora eu soubesse que esse caminho
beirava a loucura ou a irresponsabilidade mesmo, como
atestariam alguns e a desfaçatez e a heresia de acordo
com outros...
Saí da lanchonete como quem sai de um inferno, tal era
a profusão de pessoas desrazoadas em volta das
mesinhas pré-moldadas, por assim dizer e das cores do
ambiente interno com sua disposição equilibradamente
eficaz; pronta a nos aconchegar, quando chegamos e
correta, em nos colocar para fora, quando estamos por
sair do lugar.
Não que eu estivesse reclamando, mas aquela eficácia
era, de qualquer modo, razão prá me afastar de forma
definitiva do meu hábito de freqüentar a lanchonete.
.
Por várias vezes estive por falar com Hélida a respeito
daquela minha antiga vontade de me casar. Ela, é
claro, não tinha intenção de se casar comigo, nem com
ninguém mais, diga-se de passagem.
O certo é que a vontade vinha e eu tinha tomado a
decisão. Ah! A decisão! Sempre a decisão...