O SAPO CURURU.

Por Carlos Sena

 
Se eu fosse um contista não faria um conto de fadas.
Talvez de fodas eu fizesse.
Talvez de mim ou de ti me atrevesse.

Contar histórias eu gosto, mas não sei se devo escrever um conto. Um conto de réis. Um conto de cantos Gregorianos. Um conto de Clara em vez de Branca. Um conto de escuridão em vez de Neve. Um conto de semicolcheia ou de semibreve. Quem se atreve? – Branca de Neve? O sapo? Tai: o sapo. Mas que sapo eu me atreveria contar? O barbudo, o sapo boi ou o cururu? Acho que agora eu poderia me atrever a ser contista! Meu conto seria uma prosa sobre o SAPO CURURU.

Era uma vez um sapo cururu que vivia na beira da lagoa comendo mosca. Certo dia ele teve que comer um mosquito e a cobra não gostou. A cobra ficava de longe esperando o sapo cururu se fartar. Queria ele gordinho pra poder se refestelar. Mas a cobra não gostou do que viu e foi sorrateira dar o bote perfeito no miserável do sapo. “Olha a cobra cururu”... Uma voz ecoava no recinto da lagoa. Mais que depressa o cururu deu um pulo pra trás e viu que por pouco não seria engolido pela cobra. Mas de quem seria aquela voz, pensou consigo o pobre cururu. Ainda se recuperando do susto o cururu se refugiou numa moita tremendo de medo daquela cobra enorme. De repente, a mesma voz ecoou: “hoje tem festa no céu!” – Oba, disseram todos os sapos. E a voz novamente falou: “mas só entra quem tiver a boca pequena!” – Mas que injustiça, mas que injustiça, disseram todos os sapos! Triste, o cururu sai se esgueirando pela rampa da lagoa se sentindo o pior dos sapos. De repente em sua frente: thcan, tchan, tchan, tchan... Uma linda perereca toda vestida de festa, colar de pérolas e brinco de brilhante se oferece toda: “eu sou a voz que te salvou das garras da cobra”... Eu sou uma perereca apaixonada por você, meu sapo cururu! Rolou um clima e eles se abraçaram e se beijaram e foram felizes para sempre... Moral da história: nem sempre cobra que anda engole sapo.


Pois é. Cada escridor tem sua Branca de Neve que merece. Como eu não tenho a minha, escrevi um conto sem fadas, com pouca foda, mas com muito buruçu. Eu sou mesmo assim e de mim só escapam “nos are os aribu no chão os cururu...”