CASAMENTO NA HORTA

Era uma vez um repolho muito pobre... em Ferro, que resolveu se casar com uma cebola muito rica... em Vitamina A. O enlace de Re-Polhudo e Cê-Bolinha (ela pesava quase 200 gramas) foi um acontecimento superbadalado! A horta inteirinha foi convidada para a festança marcada para o Dia Mundial da Alimentação.

Tudo aconteceu à sombra de Seu Pé de couve que, usando um alinhado terninho verde-escuro, abriu as portas de sua ilustre morada para receber a moçada da Horta. Tudo muito bem arranjado para o nutritivo casório: seguindo as tendências do verão, dona Cenoura apareceu de casaquinho laranja, dona Berinjela e dona Beterraba, de sainhas roxas e Seu Pimentão, de shortinho amarelo.

A prima da noiva, dona Cebolinha Di Cheiro não deixou por menos: apareceu toda elegante, mostrando seu corpinho de dieta. Trazia, é lógico, os amigos inseparáveis, Seu Coentro, Seu Manjericão e dona Salsinha. Rompendo a barreira das hortaliças, o conhecido quarteto ia deixando seus rastros aromáticos pelo recinto. E suas presenças cheirosinhas deram, com certeza, um tempero todo especial ao evento.

Quem chegou toda apavorada foi dona Alfacinha. Tinha perdido a hora, a coitada. Mas não se deixou abater pelo susto do relógio. Esbaforida, lavou rapidinho as raízes na biquinha d’água do quintal e saiu voando com suas asas verdinhas pra casa do Seu Pé de couve. Ufa! Chegou toda murchinha, tão desidratada estava! Foi logo pedindo ao Seu Chuchu um copinho d’água, que isso ele tinha de sobra. Aliás, Seu Chuchu estava todo macambúzio num cantinho. Andava meio deprimido pela falta de calorias e nem tinha feito a barba que, por sinal, estava espinhenta pra chuchu! Mas vamos lá...

Ah, Senhorita Abobrinha! Na véspera tinha tomado um solzinho maneiro e ficou toda pintadinha. Mas não se apertou: pediu logo socorro ao vizinho Seu Pepino... Di Capri (sobrenome inspirado num cantor italiano muito famoso nos anos 70). Seu Pepino, todo mundo sabe, é tiro e queda pra clarear manchinhas. Vaidosa como é, imagine se Abobrinha iria fazer feio no casório dos amigos. Sua mãe, dona Abóbora Madura, vivia lhe dando umas dicas básicas para cuidar bem da pele, por isso ela mantinha aquela amizade (interesseira pra caramba) com Di Capri. (ssssegredo).

Lá pelas tantas, apareceu Seu Jiló... Amargo como sempre. Tinha levado um escorregão na baba do seu inimigo número um, o Quiabo Kid Abo. Diziam que entre os dois havia uma antiga rixa. Tudo porque ouviram certa conversa entre dois Bichos-Meninos. O primeiro dizia:

— Odeio jiló!

E o outro reforçava:

— E eu também! Prefiro mil vezes a baba do quiabo!

Desde então pintou um climinha difícil entre Seu Jiló e Kid Abo que passaram a se estranhar. Bom, mas isso não vem ao caso...

Diferenças à parte, quem não tava nem aí pra nada era a Moranga Japonesa. Chegou de casca escovadinha, com uma maquiagem laranja-chocante nos olhos puxadinhos. Boba que não era, levou seu leque de folha de mamoneira para uma refrescadinha básica na cútis tão judiada pelos agrotóxicos. Não ia ser louca, a dama nipônica, de se derreter ao calor antes de aproveitar a festança debaixo do Pé de Couve.

Convidados a postos, cadê os noivos? Ah, lá vinham Seu Re-Polhudo, muito chique, e sua charmosa noiva! Dona Cê-Bolinha entrou arrasando numa saia dourada, curtinha e transparente, que deixou Seu Tomate vermelho de vergonha:

— Que noiva mais espevitada! — Segredou o escandalizado hortifrúti, aos ouvidos de dona Batatinha, que mal podia com a barriguinha de massa toda apertadinha dentro do vestidinho amarelo.

— Cadê as alianças? — Gritou lá do fundo o primo da noiva Padre Cabeça de Alho, com um belo sorriso que deixava à mostra seus belos dentes.

— Chi! — Gritou Dona Vargem, fininha de tanto aperto — Esqueceram as alianças, essa não!

E os convidados até que tentaram esperar pra ver no que ia dar o vitaminado casamento, mas não houve quem desse conta: com aquele calorzão, ninguém aguentou o cheirinho dos noivos... Fugiu todo mundo!