Solitário pagador
Pasmem, diletantes cultuadores de letras.
A fuligem praguejante impregnava na pele acobreada e
chamuscada de mau odor do tacanho viajante.
Os olhos miúdos de tormento brotavam as últimas lágrimas
de sacrifício escorridas na pele rústica do rosto magro empobrecido.
Os joelhos esfolados, relutantes em obedecer aos comandos do senhorio, queimavam aflitivos arrastados sem dó naquele chão
flamejante. Labutavam calados, doloridos,
torturados pela imposição teimosa do pagador solitário.
Os longos cabelos agrisalhados, sacudidos na poeira encardida,
trançavam desajeitados num rítmo freneticamente endoidecido.
Seguiam atarracados ao couro craniano estorricado, nauseabundo,
trincando de fervura no sol a prumo.
O preço que o caboclo desembolsava em virtude do terrível sofrimento, era o cumprimento tardio de uma promessa
não cumprida no momento oportuno da graça concedida,
e, há muito tempo, ignorada em algum recanto da memória esquecida.
Diante da necessidade de um novo pedido,
que certamente haveria de não ser atendido
pelo credor da promessa anterior em razão da inadimplência
do saldo não remido.
Tratou de avivar a memória perdida
e arrumou um jeito apressado de satisfazer a paga esquecida.
Deitou os joelhos na estrada batida,
e seguiu adiante rumo a nave das promessas vencidas.
Eita sujeito desmemoriado!