DESCOBRI QUE...

Ser prolixo é...

E foi assim, me aconteceu de repente. Numa dessas tardes chuvosas, não sei se tarde inteira, não sei se pós meio dia, não sei bem se fim de tarde. Sei apenas que chove lá fora, sei lá pode ser que não, vejo meu carro pela vidraça com respingos de chuva.

Mas será porque não existem respingos de chuva na vidraça da janela? Terei que descobrir depois.Talvez seja ausencia do vento ou de uma brisa nervosa mais forte.

Acho que chove um pouco, não muito, isso não importa.

Também não sei se eu estava no periodo melhor idade ou se na melhor infancia ou se no melhor da infancia. Eu apenas sabia que todos me preparavam para alguma coisa que diziam que conheciam e eu apenas sabia que não sabia. Faz tempo-Quanto tempo eu não sei. Meus dedos hoje sugerem uma rebeldia improvisada e sequer posso avaliar em que estado me encontro, pois não sou analista de P... alguma.

Descobri que eu não andava descalço porque queria e não me esqueço de pés de couve pelados no quintal. Descobri que nem sempre eu poderia saciar meu apetite.

Depois comecei a perceber que haviam estradas, caminhos, pensamentos diferentes.

Depois comecei a interpretar sorrisos falsos e choros de felicidade. Descobri que posso ser convenientemente util hoje.

Houve tempo quando eu estava no melhor da infância que domingos eram iguais às segundas, depois do meio do caminho, a caminho da consciencia percebi que não gostava das segundas, das terças e das quartas e a sexta chegava como um sonho.

Descobri ainda que os meus olhos viam coisas que eu não queria ver. Descobri depois que os meus olhos nunca viam aquilo no qual todos diziam que eu deveria acreditar.Olhos de terceiros, ouvidos de terceiros e assim comecei desde cedo a arte de terceirizar até os meus desejos.

E foi assim, aconteceu de repente, sei lá, numa quarta, numa quinta, não me lembro, pode ter sido num domingo, tornei-me um atrevido pensador independente, um estimulador de emoções, provocador de reflexões e fonte de referencia, mas nunca descobri se positivas ou negativas. Dizem que esses dois polos estão interligados, mas isso foi na minha melhor idade quando eu reproduzia com as cores da natureza histórias do lobo mau. A minha mente perversa começava a se desenhar. Não cortejavam minhas idéias, cortejavam minha inocência, minha cara de anjo. Depois na terceira idade, sei lá, caminhando para a quarta, a quinta, na banguela, eu me orgulho de ser prolixo porque ainda não descobri a morte e tenho histórias pra contar.

Mas foi quando aconteceu lá atras, no tempo, que vai e vem nesse tunel, um susto, eu não pensava em nada e me descobri dentro de uma bacia deliciosamente cheia de agua e sabão e me apaixonei por ela aos berros e me apaixonei também pelos banhos. Acho que abandonei minhas bolinhas de gude, trocando-as por banhos de espuma com bolinhas de sabão e solidão e já queria brincar com bonecas, claro que exatamente como aquelas que os heteros brincam.

E brinquei com muitas, como também brinquei com a vida e com a reprodução. Viver isso, não é propriamente uma gota de orvalho, mas uma tempestade de felicidade e por falar nisso o fundo musical da Pontenet nesse momento é a musica do filme . Butch Cassidy estrelado por Paul Newman e que sugere que se a vida sempre fosse igual naquele filme, não haveria a palavra angústia. Foi ai que imaginei que progenitores, são apenas progenitores reprodutores e tudo que está ao redor é consequencia, é natural. Saramago estava perfeitamente correto quando escreveu sobre os resultados a médio prazo e longo prazo de espermatozóides em desenvolvimento.

Sequer eu sabia que opções existiam, eu apenas ria delas quando me mostravam materializadas em forma de seres humanos. E na melhor idade, mesmo tendo me esquecido das bacias, eu já sabia ou estava aprendendo que nada era de graça. E sei que você pode não ser aquilo que você não gosta de ser, mas por ironia do destino, aquilo que você nunca foi ou será, pode levar parte significativa de sua vida embora pra longe de você. Tudo na vida tem os genéricos, sem nome, sem marca, sem rastros e quando isso acontece no anonimato geralmente cheira a destruição.

E assim, não tão de repente descobri o preço de tudo, até o preço de um sorriso e descobri muito cedo que nem um cafezinho é de graça, mas você pode buscar gratuitamente a visão espetacular do sorriso da inocência que mora no rosto das virgens de olhos que brilham e que gradativamente com o tempo, vão perdendo a graciosidade. Todos somos virgens e felizes até que possamos conhecer a tal felicidade e nos tornarmos infelizes. Muito prolixo, muito profundo ou muito raso. Como diria meu amigo Rodolfo é muito paradigma para o meu caminhão. São devaneios que moram na distancia que existe entre a melhor e a tenra idade.

E foi assim, aconteceu acho numa tarde de sabado, pode ter sido numa segunda chata, eu descobri que haviam encruzilhadas, difuculdades, diferenças, vitórias, derrotas, pobres e ricos, esquerda e direita. Descobri que haviam gordos e magros e as encruzilhadas com velas acesas queimando nossos destinos, falseando verdades e depois descobri que muitas coisas eu poderia usar de graça. Foi uma confusão, sei lá talvez uma noite de sono perdida, no alto da terceira idade, quando a gente marca o encontro e começa a perceber porque as pessoas não chegam mais, não cumprem a palavra. Simplesmente se vão, sem despedir. Mas... eis que de repente, tudo isso pode ser uma mentira, um pesadelo e é bem possivel que amanhã eu acorde e negue terminantemente a autoria desse texto.

Mas acho que fui eu mesmo, pois hoje estou me sentido um Luiz Xavier qualquer, com uma imaginação fértil, psicografando bobagens de espiritos indomáveis mas não nego, deixei meus pensamentos fluirem, minhas lembranças invadirem meu peito e meus desabafos provocarem um dilúvio desarrumado. Sei apenas, que nada salvei. Se erros de gramatica existirem e alguns desarranjos na concordancia verbal e nominal, que seja um presente de natal aos urubus que sobrevoam esse espaço, mas que apenas comem carniça nas periferias.

Só sei que tudo isso me aconteceu num final de tarde de terça feira, nesse instante, quando amanhã nesse mesmo horário estarei desgastando meu estoque de sorrisos e meu estoque de felicidades. Eu disse amanhã nesse mesmo horário? É pode ser que sim, mas em compensação no final de semana como sempre todas as perspectivas se rejuvenecerão e assim aproveitarei para dançar na chuva, enquanto ela não vai embora no sol ardente e nas cores ácidas do alto verão abrasador, quando estarei de tanga que nem um indio qualquer, por ai.

Acho que lá fora nem chove mais nesse momento. Não, acho que chove sim, uma espécie de chuvisco-bobo, uma quase-chuva, há uma certa poesia no quase, uma valorização premeditada da prolixidade, vocês não acham meus caros leitores? Mas dizem que o auge da profissionalização sugere ao prolixo quatrocentos páginas por fornalha. Se eu brincar de chicotinho queimado, chego lá.

Uma quase-chuva-quase-vida-quase, uma quase loucura, acho, acho que estou ficando louco, e se eu estiver ficando louco?

Descobri apenas que a partir de hoje, passarei a detestar as quartas-feiras.

Agora, o sol está se apagando, está indo embora, nada mais para iluminar meus sonhos e meus pensamentos.Acho que estou ainda sob o efeito do filme "Lendas da paixão" com Brad Pitt uma história diferente mas que mostra como tudo na vida pode se desmoronar. Eu o assisti pela enesima vez, um filme lindo. Acho também que posso agora me considerar um plageador de estilos cinematográficos e estou nesse momento fazendo ensaios de despedida mesclando efeitos e lembranças das pessoas que estão indo embora da minha vida. Mas definitivamente não quero mais assistir filmes tristes.

Descobri hoje, portanto, nesse fim de tarde, ainda sob o efeito da talentosa interpretação de Brad Pitt que ser feliz, é administrar com valentia, amor e muita paciencia, os percalços da vida. A grande charada é: Duas pupilas se foram, depois de tanto tempo, mais uma se foi e agora numa quarta feira, numa plena quarta feira, mais uma. Descobri então que casulos são horriveis, bonitas, belas e faceiras, lindas e maravilhosas são as borboletas que lá estão ou estavam e voam e sobrevoam boninas estejam onde estiverem.

E descobri finalmente que eu sempre fui assim, prolixo.

Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 04/04/2012
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