Diálogo comigo, “ O Deus”
Diálogo comigo, “ O Deus”
Valdemiro Mendonça
Engraçado como temos tantas coisas lindas que nos rodeiam, fácil de ver e passamos a vida sem nos interessarmos por elas. Hoje acordei cedo, cedo mesmo, ainda estava escuro rabisquei algumas palavras num pedaço de papel ... “Vou ficar o dia todo fora, não se preocupem, se não voltar hoje, voltarei amanhã antes do almoço” Coloquei em cima da mesa de refeições, funcionei meu velho Peujeot ponto zero 2006 e dirigi com calma pelas avenidas asfaltadas de Belo Horizonte ganhando à BR 381 chamada: “Rodovia da morte” Ia sem pressa curtindo a estrada que eu conhecia bem.
Parei num posto para um bom lanche onde comprei água mineral, comprei gelo, sanduíches e coloquei na sacola térmica que sempre fica no carro assim como alguns apetrechos de pesca que eu não iria usar desta vez. Segui até o trevo da cidade de Caetés e entrei na rodovia que leva à cidade, alguns quilômetros depois entrei à direita numa estrada estreita com a placa indicativa: “Serra da Piedade” Subi a serra devagar, não apenas por ser perigosa, mas por ser muito íngreme e forçaria muito o carro.
Terminei a pequena viagem no pátio da igreja dos tempos coloniais erguida em 1760, Não havia ninguém a vista, mas eu sabia que existiam câmeras de segurança instaladas em vários pontos do pico. Não me preocupei, não pretendia fazer nenhum ato de vandalismo... “Seria até engraçado, com a minha idade ser um vândalo” Fechei o carro acionando o alarme, “costume de pobre” afastei-me até uma borda da serra com vista para o leste, sentei-me e levantei os olhos para contemplar a certeza da existência de uma força poderosa a quem chamamos Deus.
Até onde a vista alcançava com nitidez vi as cores exuberantes das Minas Gerais, matas verdes, vales, grotas e montes, pedreiras altíssimas e que ficavam brilhantes recebendo os raios de sol desta manhã de meados de março; Lançando o olhar no horizonte, as cores iam aos poucos se misturando tornando-se mais enevoado, algumas nuvens baixas circundavam alguns dos montes que se sucediam parecendo interligados de alguma maneira quase que com a mesma area das partes baixas.
Perdi-me na contemplação e involuntariamente meu pensamento se foram para as perguntas cujas respostas eram cercadas de mistérios, incógnitas indecifráveis que sempre atormentam a inteligência humana. Lembrei-me de um cientista britânico “Stephen Hawking” que afirmou num dos seus livros que Deus não existe... Que os universos criaram-se por reações químicas e físicas. Gostaria que ele estivesse sentado aqui ao meu lado, ou talvez, sozinho contemplando o que vejo e mais do que vejo... Sinto.
Exmo senhor “Stephen Hawking” Deus existe sim, Deus? Sou eu! Não, você que esta lendo, leu corretamente, não se espante eu não sou egoísta, “você também é Deus!” Blasfêmia, que isto, que bobagem é esta agora? Desde quando estou blasfemando por dizer que somos deuses? As horas passaram-se rápidas, comi o lanche e conversei um pouco com um padre que apareceu, me cumprimentou, perguntou se estava tudo bem e parece que não queria muita conversa, pois, quando respondi afirmativamente se retirou e não o vi mais.
Continuei meditando nas mil perguntas e mil respostas que surgiam e desapareciam sem soluções. Bebi água algumas vezes sempre pensando em que ou, porque? Quando a tarde morria chegou uma vã e logo depois que desceram quatro passageiros, foi-se, ouvi o motorista dizer que na manhã seguinte os viriam buscar. O veículo tinha o emblema de uma universidade mineira e abaixo em letras destacadas a palavra: “Astronomia” Entendi que deveriam ser cientistas que passariam a noite estudando estrelas no recém observatório construído ali. Anoiteceu e depois de algum tempo apareceu um homem com farda do exercito portando uma lanterna, caminhou até onde eu estava e perguntou se estava tudo bem, respondi que sim e ele se foi, acho que meus cabelos brancos devem ser uma identidade. Ninguém me proíbe de nada!
Quando percebi já era meia noite e eu estava lá na mesma posição, só que agora contemplava um céu estrelado, enorme, uma lua ainda não totalmente cheia brilhava muito e diante de tanta beleza eu tive certeza que eu sou “Deus” viu senhor “Stephen Hawking” Deus existe sim e eu sou: "Deus", “nós somos o Deus” Não adianta vir com este papo furado de que o universo se fez sozinho, nós o "Deus" fizemos os universos! E você aí que está lendo, pare de dizer que estou blasfemando.
Blasfemando? Eu não! Se pensar que eu estou blasfemando então olhe com os meus olhos, veja o que estou vendo, veja as belezas que vi em um só planetinha azul vislumbrando apenas uma parte minúscula dele, veja o céu que estou vendo com milhões de planetas... Se eles são azuis... Porque não? Azuis, verdes, vermelhos, cor de abacaxi, cor de abobora, cor de cobra caninana, cor de jacaré do papo amarelo. E se você pensa, então pense que você é inteligente e saiba que nós somos parte de tudo isto que chamamos de “universos”, e se somos parte deles, somos parte da vida, somos parte de Deus assim como Deus é parte de nós porque ele é tudo o que existe e se tenho consciência de que ele está dentro de mim, é porque somos unos.
Somos energia e fazemos sim parte da força que se fez... “Universos, Somos Deus”. Fui para o carro e dormi com a certeza de que não preciso de mais respostas, não preciso das respostas do renomado cientista “Stephen Hawking” não preciso que ninguém explique Deus, eu me explico, eu sinto que tenho “ELE” dentro de mim. Amanhã meus conhecidos irão me estranhar, talvez eu me apresente a eles com este sorriso misterioso que tenho nos lábios e não explique a ninguém onde passei a noite... “Que legal”
Trovador.