MENINA DA PRAIA
Era eu uma criança e brincava numa praia, sentado junto ao mar construindo castelos de areia.
A minha mãe veio até mim de uma forma subtil, como só ela o sabia fazer e perguntou-me:
-Só constróis castelos, meu filho! Será que não sabes fazer mais nada?
-Os castelos fascinam-me minha Mãe, respondi com uma voz trémula.
Ela retirou-se e eu perguntei a mim próprio qual a razão de só construir castelos com enormes muralhas?!
Minutos mais tarde, chegou uma menina doce, com uma voz muito meiga, com uns olhos lindos, como de pérolas se tratasse, e perguntou-me:
-Olá menino, posso brincar contigo?
-Claro, respondi com um sorriso tão grande que o mar não o conseguia absorver.
Aquela menina era linda, e apesar dos meus 12 anos, não perdi a oportunidade de brincar com um ser, em que por momentos pensei que se tratasse de uma autêntica sereia.
Construímos castelos, fizemos experiências e eles continuavam de pé.
Apanhámos conchas e pedras para os decorar, e quem por ali passava parava para os observar.
Ao ter que partir, pois os meus Pais me chamavam, ela disse-me:
-Construímos castelos enormes, e nada houve que os tivesse derrubado, um dia adorava viver num castelo construído por ti, pois sei que jamais se destruirá.
Respondi de uma forma ternurenta:
-Quem sabe amiguinha, quem sabe!
Voltei àquela praia durante anos e anos, e quando me sentava na areia, procurava até no horizonte por aquela figura, por aquela voz, mas nunca mais a encontrei.
Fui crescendo, os anos passaram por mim, mas continuei, sem saber porquê, a frequentar aquela praia, de Inverno e de Verão.
Um dia, nessa mesma praia, eu a reencontrei por obra do destino, e então reparei que era ela, aquela por quem sempre tive uma grande paixão.
Travámos uma longa conversa e senti mais uma vez, que era ela.
Recordei os seus cabelos, os seus olhos, a sua voz, a sua doçura, a sua beleza.
Sim, era ela sem dúvida.
Nessa praia voltámos para nos encontrar, falar e recordar as nossas vidas aos estarmos afastados durante longos anos.
Depois de muitas palavras doces e ternas que trocámos, descobrimos que o que existia em nós era Amor e entregámos os nossos corações, numa noite de verão, nessa mesma praia, onde convidámos para padrinho o Mar, e para madrinha a Lua, e onde os convidados foram as estrelas do céu.
Construímos aos poucos o nosso próprio castelo, cada vez mais sólido, sem que nada o pudesse destruir, mas desta vez não o podemos construir em areia, mas sim com pedras fortes e sólidas, as pedras do verdadeiro e cristalino Amor.
Recordamos agora o primeiro dia sentados na areia a brincar, e agora no mesmo local nos sentamos para nos Amar.
Acreditar que existe amor, é acreditar que vale a pena viver.
Agora junto dos meus filhos transmito que um sonho de criança é possível realizar, sempre acreditando que o amor existe, dentro e fora de nós.
Obrigado pelo reencontro.
Amo-te menina da praia.