Deleite do misantropo
Na parede antiga trincada de velhice e fraqueza os ponteiros do carrilhão indicavam meia noite com westminster antecedendo as doze badaladas.
A relva juncada macia lá fora era sacolejada pela fúria da ventania afiada arrasadora cruzando o céu com veemência trazendo consigo um cântico medonho de vozes desconexas turbulentas horripilantes. A orquestra tenebrosa era coadjuvada pelos estrondeantes sons que surgiam a cada clarão provocado pelas descargas elétricas fustigando a terra incessantemente.
O grande cataclismo principiava a toda potência sem misericórdia. Pelas notícias veiculadas nos dias precedentes sobre as previsões climáticas desanimadoras que atingiriam os continentes de forma simultânea a situação convergiria para uma iminente catástrofe pavorosa aniquiladora definitiva escatológica.
No cômodo quase em ruína esperávamos o que viesse tétricos entorpecidos pelo álcool sorvido em fartos goles na vasilha que passava apressada de boca em boca sem descanso. Nenhum de nós se atrevia ao descaramento de proferir algum juízo de valor sobre a algazarra que intensificava cada vez mais num rigoroso e extremo vigor. Calados petrificados embriagados de medo e vergonha, cada qual a seu modo ouvia as gargalhadas sinistras e sarcásticas da natureza como quem dizendo em elevadíssimo brado eis que chegou a minha vez de revolver preparar e cultivar a terra no propósito de banir de meu solo a desgraçada raça humana para que outra raça usufrua as minhas qualidades e quantidades de modo condigno.
E o fez num átimo. Entretanto poupou tudo não humano.
No fatídico dia Deus saiu todo serelepe a perambular em outras galáxias.