Os viajantes

Certa vez adormecido e caído em sonho, me via caminhando por ruas já percorridas da vida, descia uma ladeira de pedras cinzas e ao chão flores amarelas esparramadas. Nesse caminhar encontrei uma criança de semblante familiar que se dizia perdida. Senhor, senhor ela me dizia: - Me toma pelas mãos e me me segue. Ela me pediu ajuda para percorrer de volta o caminho de onde viera, aliás, voltar para as origens é uma façanha que todos nós deveríamos retomar. Tomei a criança pelas mãos e saímos à procura de pistas, respostas, situações e acontecimentos que fizessem algum sentido à nossa busca. Um longo dia e um longo caminhar, sentado na grama verde, um menino brincava a sós, mergulhado em seus sonhos e brinquedos. Sua atenção não se desviava dos cavalinhos e soldadinhos de chumbo e não percebeu a nossa passagem. - Menino, menino lhe chamei. Olha pará nós e nos mostre como chegar onde queremos. - Sim meu senhor, responde o menino, que pega em minhas mãos. Seguimos juntos em nossa jornada e um jovem rapaz muito apressada corria atrás de nós e nos alcançou dizendo: - Sei onde vão e irei junto também. Mas o jovem estava mais interessado em viver as possibilidades da vida do que ouvir as nossas dúvidas e indagações e em quase nada nos ajudou. Chegando na parte alta da cidade, encontramos um homem de cabelos grisalhos que vendia seus produtos em uma banca. Aproximamos. -Bom dia senhor procuramos por um caminho de volta, poderia nos ajudar? Sua lida era apressada, falava muito dos seus afazeres e conquistas das vantagens em adquirir experiências, que pouca atenção deu a nossa presença. Então compramos sua atenção, um saquinho de biscoitos bem crocantes e assim nos disse: -Por hoje está bom, posso fechar. Acompanho sua jornada e ver até onde queres chegar. Partimos em direção da parte baixa da cidade, descemos ao encontro de uma praça sossegada, onde um homem velho estava sentado num banco, alimentando os pombos e observando a passagem dos dias. Sem que falássemos nada, ele nos observou de longe e fez um gesto com a mão para que nos aproximássemos. Coisa interessante. Ele olhou para nós e disse o seguinte. – Estava esperando por vocês. Por nós, disse eu espantado. – Sim por vocês. Estava lhes esperando por toda a vida. Sempre venho aqui eu fico relembrando os fatos do passado. Revivo todos os momentos, meus anseios e desejos inacabados, quando não dava atenção às pequenas coisas, as coisas simples e aos verdadeiros amigos. Tudo passava muito rápido e sem perceber, já era outro dia, outra tarefa outro amigo. Porém hoje eu fiz diferente, voltei a minha infância e percorri detalhadamente todo o nosso caminho. Observei as fases da nossa vida e vi tudo àquilo que deixamos passar despercebido, até chegarmos aqui nesta nossa idade, para dizermos um ao outro, tudo aquilo que sempre soubemos, mas não fizemos. A felicidade está nas pequenas coisas e nas pequenas vitórias. No convívio das coisas e pessoas cotidianas. Vivemos muitas e grandes coisas, mas só vocês poderão resgatá-las novamente e revivê-las por mim e em si mesmos. Sejam bem vindos ao lar! Viajantes das minhas lembranças.

Geraldo Faria
Enviado por Geraldo Faria em 14/03/2012
Reeditado em 04/12/2014
Código do texto: T3553935
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