Capitão não é boneco
Esta história me contou o amigo Adolfo. Como nunca o flagrei em patranhas, dei-lhe todo o merecido crédito. Assim me foi narrada: O Capitão Marcos* saiu de sua residência, todo empetecado em seu uniforme militar de gala, com destino ao quartel onde participaria de uma solenidade militar. Dirigiu-se ao ponto de taxi que ficava a um quarteirão de onde morava e, lá chegando, acenou para o proprietário do primeiro taxi da fila, que no momento conversava com outro motorista. Este, por sua vez, atendeu de pronto ao chamado do passageiro, mas ao despedir-se do colega, falou: - Dá um tempo aí parceiro, que vou levar aquele boneco ao seu destino! Quando eu voltar continuaremos a nossa prosa. Boneco, aqui na Soterópolis, é, também, a denominação dada por alguns taxistas a passageiros que eles transportam. O taxista abriu a porta do veículo. O oficial polidamente entrou, sentou-se, e, sem fazer qualquer cesura à forma jocosa como fora tratado, anunciou o itinerário. Chegando ao quartel o capitão pediu que o motorista o conduzisse até o interior da Unidade Militar. Lá chegando, apeou do veículo e pagou a corrida. Em seguida chamou o sargento Amarildo* e lhe ordenou: - Sargento conduza esse motorista até a pista de atletismo e faça-o ver que capitão não é boneco. Dito e feito. O sargento Amarildo, como bom cumpridor de ordens, conduziu o insolente motorista até a pista, e mandou que ele ficasse perfilado, como que em posição de sentido. Em seguida bradou a sua potente voz de comando que, a meio quilômetro, claramente se ouvia:
- Ordinário, marche!
O motorista, trêmulo, em tempo de borrar nas calças, prontamente obedeceu. Ai dele se não obedecesse! Por nunca ter servido a qualquer instituição militar, nem mesmo ter marchado em desfiles de colégios, ele se deslocou todo atabalhoado. Não sabia, ao certo, se marchava ou caminhava.
Outra potente voz de comando emitiu o sargento:
- Repita comigo, ordinário!
Um, dois, três, capitão não é boneco!
- Um, dois, três, capitão não é boneco.
Um, dois, três, capitão não é boneco!
- Um, dois, três, capitão não é boneco.
Mais alto porque não estou lhe ouvindo! – Berrou novamente o sargento.
Um, dois, três, capitão não é boneco!
Novamente!
Um, dois três, capitão não é boneco!
Perdeu-se de vista o número de voltas na pista de 400 metros, percorridas pelo insolente motorista, debaixo de sol escaldante, repetindo a ordem de comando do sargento.
Após o justo e merecido corretivo, encharcado de suor da cabeça aos pés, o motorista foi reconduzido à presença do oficial. Posicionando-se em frente ao capitão ouviu deste um belo sermão sobre como tratar pessoas, especialmente passageiros, quando em uso de seu taxi.
Depois de reiterados pedidos de desculpas, cheios de rapapés e salamaleques, e a promessa de não mais proceder da maneira deselegante como procedeu, ele foi liberado para voltar a sua lida.
Creio que, depois dessa amarga experiência, o termo boneco nunca mais fará parte de seu vocabulário.
• Nomes fictícios.