Hoje
Um desses dias a passar incólume no meu calendário, sem nunca ter vindo, desnecessário ao todo, se não fosse, entretanto, os acontecimentos comuns na vida das pessoas tais como a alegria de quem recebe os entes que chegam, a tristeza no adeus àqueles que partem pra nunca mais, os assuntos decorrentes de conflitos politicos religiosos semeados pelo mundo afora, a desigualdade social e econômica entre os povos, a fome e a miséria pedindo socorro, a intolerância de qualquer viés, enfim essa merda toda da qual sou parte integrante.
Contudo, não estou na pele da tristeza de uns, nem tampouco no sangue alegre que corre nas artérias de outros e sou consciente de ser nada vezes nada de um grão atômico. Simplesmente hoje eis-me doente vazio amargo desprovido de algo a comparar. Porém, hoje estou de rejeitar canção, de não me interessar pelas novidades na vitrine da livraria, de não sorrir das minhas asneiras imbecis, de afastar
o escritor que leio no momento, de cortar a linha da pipa do filho mal educado do vizinho chato, de não aniquilar as formigas intrusas assaltantes de folhas das roseiras habitantes do meu jardim. Estou até de ignorar o decote da morena atrevida que diariamente costuma visitar meus olhos deliciosamente vestida de matreirice sacana invulgar.
Hoje eu pularia, deixaria ir embora segundos minutos horas deste dia inteiro se não fosse pelas ocorrências de tantos eventos desimportantes e alheios a mim mas talvez, quem sabe, dignos de sobrevivência na história humana.
Hoje opaco, nem dei conta das janelas. Amanhã há de ascender melhor retorno.