Nada no front

A batalha evaporou sem vencedores. A garota molhada de sangue passa sobre os escombros com um pano branco numa das mãos a procura dos pais. A velha senhora enrrugada esquecida no tempo inicia o plantio de primaveras vermelhas no chão derretido pelo arsenal socado em larga escala. Os pequenos pirralhos irmãos maltrapilhos vasculham as casas destruídas em busca de ração e livros. No ar, uma voz rouca abatida carregada de entusiasmo vazio, noticia o fato em compassos intermitentes. O poeta absorto no interior do seu texto implora palavras concisas que relatem ao futuro o horror ali deflagrado. As manhãs e as tardes outrora belas simpáticas radiantes vão retornando timidamente sem alarde ao aconchego dos respectivos horários. Os adversários - todos mortos - ainda guerreiam desvairadamente entre si, agora motivados pela conquista de uma frondosa sombra que paira na direção norte do cemitério silencioso. Mesmo com o cessar do conflito as aves do lugar ressabiadas pela atitude infame dos homens emigraram para regiões distantes onde a insensatez não alcança. O hino poderoso antes interrompido em represália voltou a ser entoado homenageando aqueles que desertaram em nome da liberdade. A estupidez e a ignorância partiram abraçadas no comboio das seis.

Wagner de Oliveira
Enviado por Wagner de Oliveira em 07/03/2012
Código do texto: T3541414