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Um tal desconhecido achou de querer voar. Fazia um tempo úmido que pesava no condensado e sinistro ar, mas a vontade era maior que a certeza portanto não titubeou. Se esquivou do desatento zelador, embrenhou-se escada acima, de supetão atingiu o décimo andar. Esbaforido procurava apressadamente uma janela que de distraida se mantivesse aberta livre exclusiva pronta pro seu intento alcançar. Não tardou, vislumbrou aquela abertura linda perene sensível ao seu apelo, ao seu plano de planar. Deixou numa poltrona ao lado o cansaço ofegante, subiu no parapeito da esquadria abriu os braços feito asas como um pássaro sem penas, pensou nos filhos e na mão dos filhos, viu a fome pela última vez, saudou um bando de urubu que passava cantando blowin i the wind inclinou o corpo a frente e planou até o receptivo chão que de acolhedor deu-lhe um forte abraço até sangrar.

Foram momentos excitante, deduzo, mas inerte sem vida o ilustre voador recusou-se de revelar em caráter ad eternum a experiência de voar.

Wagner de Oliveira
Enviado por Wagner de Oliveira em 07/03/2012
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