Pássaro de sete cores perdeu seu alimento predileto
Imagine um coqueiro gigante que tem a altura de um edifício de dois andares e lá no alto, grudado aos ramos verdes, pende um cacho carregado de coquinhos amarelinhos e, em seguida imagine também a chegada de alguns pássaros de penas coloridas, divinamente belos, pousarem no cacho e começarem a bicar nas frutas, num ritmo frenético e barulhento.
Uma cena momentânea, única, capturada pelas lentes da minha Cannon, da sacada de um sobrado - a pousada de minha amiga Eleuza, na praia de Itapoá, em Santa Catarina. Por estar quase no mesmo nível da copa da árvore foi possível visualizar a cena melhor, pois a árvore estava localizada no terreno do vizinho.
Agora retorne à infância e busque nos cantinhos da memória a lembrança de como era gostoso catar coquinhos maduros no chão, isso se você foi criado solto e livre pelas ruas sossegadas de uma cidade arborizada, senão, tente vivenciar o relato, sobretudo por que a próxima etapa é comê-los um a um, virando os olhos e evocando o famoso mantra, hummm..... hummmm.... isso enquanto se sente o sabor doce e o líquido pastoso retirado das fibras da fruta enchendo a boca.
Este coqueiro imponente a que me refiro, que serviu para alimentar pássaros maravilhosamente belos, que produziu frutos doces como mel, e que traz a lembrança do sabor de infância não existe mais....
Isso mesmo, não existe mais porque cometeu um pecado grave: deixou os seus galhos secos cairem e sujarem a piscina da casa construída perto dele.
É triste, mas é verdade.
Não é só o pássaro de sete cores (como todos o conhecem em Itapoá) que irá perder o seu alimento predileto, a sociedade, na verdade, a humanidade inteira está perdendo, destruindo o que há de mais belo na vida.
Infelizmente, Itapoá é apenas um exemplo de como nosso inconsciente coletivo se manifesta quando o assunto é progresso e desenvolvimento. O objetivo é lucrar sempre...
A praia de Itapoá, localizada no Sul do Brasil, foi durante muito tempo um local de exuberante paisagem natural pelo difícil acesso ao balneário. Há poucos anos a estrada que faz a ligação entre Itapoá, Barra do Saí às BRs 376 e 277 ( era de chão batido) foi asfaltada e os serviços de infra-estrutura melhoraram e começou a a crescer a especulação imobiliária. Até aí tudo bem, nada contra a entrada de novos moradores.
Mas tenha santa paciência...depois disso, a construção de um porto particular - que não me dei ao trabalho de descobrir para qual empresa e qual os conchavos feitos e quem ganhou nesse privilégio de possuir um local próprio para descarregar carga - provocou uma revolução no local, derrubou matas e fez o escarcéu, é claro, tudo com o discurso de que progresso é necessário.
Não sou contra a geração de empregos, melhoria da qualidade de vida. Pelo contrário, apoio e acho importante o processo de modernização. Mas é desanimador observar que o homem não aprendeu a lição. Quando o assunto é ambiental, os interesses individuais estão acima de tudo.
Choramingos à parte...
É saudades do pássaro de sete cores.... Tinha a intenção de fotografá-lo de novo, na próxima frutificação do coqueiro.
Me consolo lembrando que minha amiga Janine construiu uma grande casa na Barra do Saí, bem no fundo do terreno localizado de frente para o mar, isso para preservar a restinga - vegetação litorânea que cresce na zona de arrebentação das ondas. Deixou espaço para a entrada dos carros e teve o cuidado de delimitar a área natural com uma cerca baixa que deu à propriedade um aspecto agradável e pitoresco.
Outro exemplo é minha irmã que já enfrentou muita crítica ao manter um poço de água amarelada e cheirando ovo podre abastecendo sua casa de veraneio em Itapoá. Além disso, ela conta com orgulho que o veio de água foi descoberto por intermédio da forquilha de pêssego. O enxôfre que a água possue tem curado muitos problemas de pele em algumas pessoas que passaram férias em sua casa.
São pequenas atitudes que fariam uma grande diferença e se todos pensassem assim, com certeza, o belo pássaro de sete cores teria garantido o seu alimento predileto!