Possibilidades e Impossibilidades
Havia, em uma pequena vila, um velho que temia meteoros, do qual as pessoas faziam chacota. Chamavam-no de louco e estranho. E as crianças o atormentavam com suas cruéis brincadeiras infantis. O velho possuía, no jardim de casa, uma entrada para um abrigo subterrâneo que passara a vida inteira construindo, e o tal abrigo era sempre assunto em voga na vila, falava-se de desperdício de dinheiro, tempo e trabalho em uma obra de total inutilidade, coisa que só um homem definitivamente louco poderia conceber.
Todos desdenhavam do medo absurdo do velho, ate que em um dia de verão, foi anunciada a queda de um meteoro na pequena vila. Ninguém escaparia. O caos se instalou. E no meio dos gritos e da correria alguém aludiu a um certo abrigo de um certo velho louco. O velho já se instalara em seu abrigo apos ouvir a noticia, quando escutou a porta do mesmo um grande alvoroço, e ao abria sua porta pra descobrir a origem das vozes que bradavam, foi atropelado por uma multidão que, sem pedir licença ou permissão, invadiu de assalto o seu pequeno abrigo.
O pobre velho não teve como impedir a torrente de pessoas que, num estalo, abarrotou o abrigo, todos de pe pela falta de espaço, e tão apertados que quase não se podia respirar.
Foi então que se ouviu do meio da multidão: - a porta não fecha!
E logo em seguida outra voz gritava: - não ha espaço para todos, alguém terá que sair!
Todas ali fossem quem fossem, tinha sempre a língua pronta argumentos de toda sorte para defender sua permanecia no abrigo. E em meio à tão alta estirpe de merecimento, começaram a empurrar-se tentando expulsar uns aos outros. O velho falou, mas ninguém o ouviu, e ele que já não era tão forte, saudável, jovem ou desumano o bastante, acabou por ser expulso de seu próprio abrigo, e condenado a morrer sozinho, frente ao seu único medo.
“Sorria, você vive no pior dos mundos, faz parte da pior das espécies, e se for esperto, provavelmente é a pior das pessoas”.