MARTÍRIO

MARTÍRIO

Já haviam se passado 15 anos e nunca mais vira Zézinho. Menino de 6 anos, cabelos claros, pele alva como a neve, olhos amendoados, uma grande pinta escura de nascença na mão esquerda, e um olhar aguçado, tal qual, o de uma águia na caça a suas presas.

Saíra para ir até a casa da madrinha, que ficava a duas quadras da sua, e desaparecera, sem deixar rastro. Fazia aquele percurso todo dia, para ir brincar com seu primo Fernando. Eram por volta das três da tarde quando saíra, e só foram dar por sua falta, no início da noite. Ninguém mais cedo estranhara, a mãe por pensar que ele estava na madrinha, e a madrinha por acreditar que ele não aparecera, por estar de castigo, por alguma arte cometida. A madrinha então ligou para perguntar dele e a mãe disse:

Como, onde está? Foi para sua casa na hora de sempre!!

Pois aqui não chegou.

Ah, menina não é possível!

Saíram a sua procura, as horas passando e nada de encontrá-lo. Viraram o bairro do avesso, e nada. O desespero crescendo, foram a delegacia e imediatamente foi expedida ordem de busca em todas as Delegacias, Hospitais e Prontos Socorros. Tudo inútil, Zézinho sumira. Começou aí seu calvário, saía diariamente a procurá-lo,foi a rádios e estações de TV e nada de notícias. Diuturnamente se consumia, eram noites mal dormidas, o comer um sacrifício, seu olhar foi perdendo o brilho e até as lágrimas haviam secado. E assim passaram-se anos, naquela busca infrutífera e sem fim, e aquela dor que não sumia. Onde estaria? O que acontecera? Por que sumira? Quem cometera aquela barbaridade? Eram perguntas sem respostas, que martelavam implacavelmente sua cabeça. Sua vida acabara naquele dia, não tinha mais forças para nada, apenas procurava por ele, e a cada dia ao voltar para casa, entregava-se a rezar, pedindo uma graça. Queria encontrá-lo, mesmo que morto, para aplacar sua dor, ou então que Deus a levasse para a eternidade, pois não tinha a menor vontade de continuar por aqui.

Naquele início de noite, voltava para casa mais uma vez. Descera do ônibus e caminhava pesadamente, absorvida em sua cruz, quando ao virar a esquina para entrar na rua em que morava, percebeu grande alvoroço, que parecia ser em sua casa. Foi se aproximando devagar e ao chegar mais perto viu que a algazarra era mesmo em sua casa. Apressou os passos e percebeu no olhar das pessoas, um estarrecimento incomum. Ia perguntar o que estava acontecendo, quando na porta surgiu um rapaz de cabelos claros, pele alva como a neve, olhos amendoados e uma grande pinta escura na mão esquerda. Seu coração não resistiu, e lá se foi ela, sem saber o que tinha acontecido.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 14/02/2012
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