OUTROS NATAIS
Ele decidiu não ver outro Natal. E entre um cigarro e outro, antes da próxima xícara de café, olhou-se no espelho e viu a si mesmo. Não era quem gostaria, não era quem ele esperava. Era outro. Envelhecido e podre. Sentiu-se num romance de Wilde e apavorado com a hipótese destruiu o espelho. Ninguém deve ser submetido a esse vislumbre do futuro. Toda sua vida até então foi planejada em detalhes. É nessa direção que estou seguindo? Há forças muito maiores que o instinto de sobrevivência. Do desespero ao joelho no chão, das lágrimas ao sangue escorrendo, entre cacos de vidro mostrando suas várias faces, decidiu não ver outro Natal.