OUTROS NATAIS

Ele decidiu não ver outro Natal. E entre um cigarro e outro, antes da próxima xícara de café, olhou-se no espelho e viu a si mesmo. Não era quem gostaria, não era quem ele esperava. Era outro. Envelhecido e podre. Sentiu-se num romance de Wilde e apavorado com a hipótese destruiu o espelho. Ninguém deve ser submetido a esse vislumbre do futuro. Toda sua vida até então foi planejada em detalhes. É nessa direção que estou seguindo? Há forças muito maiores que o instinto de sobrevivência. Do desespero ao joelho no chão, das lágrimas ao sangue escorrendo, entre cacos de vidro mostrando suas várias faces, decidiu não ver outro Natal.

Harrison Bourguignon
Enviado por Harrison Bourguignon em 09/02/2012
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