O CURIOSO CASO DA "FLORMIGA"

Bem ali, naquele filete de jardim, mora uma formiga. E a despeito de sua natureza comunitária, vive só, em espécie. Sua casa não é um formigueiro como se espera, é um sapo de cerâmica! Tem como
companhia um guardião-amigo na pele de um homem de vividos anos.
Todas as manhãs os dois tecem silenciosa linguagem. Eles se entendem porque conversam sobre seus mundos velados e sem pressa. É que o homem, de saúde combalida pelo peso dos anos, já não vive mais a pressa-trabalho do mundo frenético. Seu tempo agora é outro... E ele, sabiamente, aproveita disso.
Acontece que um dia, essa curiosa rotina foi alterada. No jardim, outra formiga surge não se sabe de onde. Chegou e povoou a solidão da formiga amiga e confidente. Depois desse encontro viviam juntinhas e passeavam por todos os cantos daquele apoucado canteiro de flores. A formiga gostou tanto da corte que decidiu fugir com seu companheiro de espécie, deixando para trás, um homem e algumas lágrimas.
O homem triste, todos os dias, procurava por sua amiga nos cantos mais insólitos de seu minúsculo jardim. Espiava a casa-sapo de pertinho e nada! A casa vazia deixava o pobre homem intrigado "Por onde andará minha formiga?", era o lamento lúgubre do homem que teve uma formiga-flor como amiga!
Neste período de deserção o homem se contentava com as visitas-voantes que recebia. Tentava espantar o tempo com delicados cuidados aos outros moradores de seu pequeno e exótico jardim: uma açucena, uma andorinha e algumas espécies vegetais.
E como amizade é laço que não se desfaz, num belo dia, eis que surge, pesarosa, o inseto fujão! A surpresa deu ar de festa à recepção. Voltou sozinha, é verdade!
-O que terá acontecido?
-Terá sido abandonada?
-Ou foi ela a abandonar?
-Terá sido uma escolha pela solitária-feliz vida de antes?
A resposta não importa. O que conta é a volta da pródiga-formiga à casa do amigo-pai que a recebe com singular alegria.

Foi assim que naquele instante o dia cheirou gostoso. Para logo mais, em lençóis macios, a noite dormir branca nos olhos do homem que renascia.
É que no jardim nascia nova flor, pretinha e minúscula - uma FLORMIGA! Pontinho negro que clareia a vista cansada do homem da metrópole.

 
Ao Tio Preto e sua "Flormiga"...
Suerdes Viana
Enviado por Suerdes Viana em 08/02/2012
Reeditado em 18/11/2012
Código do texto: T3487668
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