VA A CASA, CAZZO

VA A CASA, CAZZO

Sentado nas pedras, Tino via ao largo, passar aquele lindo navio com um grande C em sua chaminé, seu nome era Eugenio. Corria o ano de 1969 e o pequeno Tino, filho de pescadores que viviam no litoral italiano, sonhava em um dia, ser o comandante de um transatlântico como aquele. Ficava horas sentado nas pedras da ilha onde morava, apenas para observar a passagem daquele colosso e sonhar. Invariavelmente, era despertado de seu sonho pelos gritos de seu pai “ Va a casa, Cazzo “, e lá ia ele esgueirando-se pelas rochas, torcendo para que seu pai não o alcançasse.

Crescia, mas o sonho não esquecia, embora o pai nunca o encorajasse. A mamma sempre lhe dizia, corra atras de seu sonho,não deixe seu pai o desanimar.

Tino então foi-se da ilha, estudou muito e formou-se em capitão de longo curso. Foram inúmeras noites mau dormidas, estudando em escola com regime militar, aprendendo ciências náuticas, instalação de máquinas, eletrônica, eletricidade, e até astronomia. Depois foram mais 8 anos de trabalho duro, para conseguir chegar a seu sonho e conseguir capitanear um navio com aquela famosa letra C, que o marcara desde a mais tenra idade.

Estava feliz, realizado e empavonado. Era um comandante arrogante e presunçoso.

Em um de seus cruzeiros, programado para dali a alguns dias, teria a chance de mostrar a mamma, o quanto era importante e o quanto agradecia seus conselhos e incentivo. Programou tudo em sua cabeça aguardando o triunfante dia.

Chegou o grande dia, e iniciou-se o aguardado cruzeiro, com rota definida para passar próximo a sua ilha natal. Tino ao aproximar-se da ilha, em que sua mamma ainda morava, deu ordens de correção de curso para aproximarem-se ao máximo da costa e prestar a homenagem que havia idealizado. Tinha telefonado, e pedido a ela que ficasse nas pedras, em que ele quando criança ficava, e que mantivesse olhos e ouvidos bem abertos, pois assistiria um espetáculo que jamais outro mortal presenciara.

Foi aproximando aquela cidade flutuante da ilha e eis que repentinamente um estrondo foi ouvido e o grande transatlântico começou a adernar. Sirenes começaram a tocar e o pânico instalou-se. Tino, do alto de sua arrogância e sem atinar o que ocorria, abandonou o navio. Logo, estava em uma embarcação da guarda costeira, e a única voz que ouvia, que parecia ser seu pai, dizia através do rádio, “ Va a bordo, Cazzo “.

Era o fim do sonho e o início de um interminável pesadelo.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 25/01/2012
Reeditado em 25/01/2012
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