QUANDO BARRABÁS AVISOU QUE IA SE MATAR...

Ele avisou a todos:

- Vou me matar hoje à noite!

Disse isso à tarde para saborear o impacto e dar tempo aos parentes que se ocupassem com a idéia ou tivessem qualquer outra atitude. Para sua surpresa, apenas ouviram e nenhum comentário. Só o cachorrinho ficou de repente olhando pra ele, abanando a cauda como a dar alguma satisfação. Encolheu os ombros e pensou, vocês vão ver o que é bom...

Barrabás morava há um tempo com Senilda, cujos filhos já eram mocinhos e ela bebia feito um gambá. Tivera os filhos ao acaso, pais um tanto desconhecidos e viera a morar com este que tinha uma enorme barba negra e cabelos da mesma cor sempre desgrenhados.

Deus faz, o vento espalha e o diabo junta, eis o que explicava aquela união, pois os dois eram da mesma força. Além deles e os filhos, havia a mãe de Senilda, uma senhora sólida e alta que adorava dar palpite em tudo.

A noite chegou. Já eram umas nove horas quando Barrabás anunciou, olhando para os outros com muita intensidade:

- Vou me matar! Agora!

E saiu pela porta sem ouvir nenhum protesto. Seguiu em silêncio imaginando que provavelmente as duas mulheres ficaram chocadas e não conseguiram dizer uma palavra. Suspirou fundo e chegou junto do velho poço. Em seguida, ouviu-se um forte ruído de algo pesado caindo na água. O som foi sumindo, a noite de lua encoberta pelas nuvens voltou ao seu silêncio naquele campo, e só se ouvia o ruído dos grilos. Nem uma coruja piou. Somente agora, a água jogada para cima deixava algumas gotas escorrendo pelas bordas do poço, as lágrimas que lhe fariam justiça.

Lá dentro, na casa, nenhum ruído.

Suando e fungando, Barrabás bufava com os pés na escada de paus de eucalipto que havia colocado dentro do poço às escondidas. Protegido pela escuridão, jogara pra dentro uma enorme pedra e depois descera rapidamente.

Ainda aguardou por um bom tempo. Teve então que se render às evidências. Muito jururu, saiu de lá bem pior do que entrou.

Soube dessa forma, aquilo que muitos de nós talvez não tivessem nunca a coragem de tentar descobrir.