Fantasmas e estrelas

Quando o sono se distrai em mim, penso e logo desisto de ficar exposto sobre minha cama de lençóis surrados . Agito-me feito um animal selvagem em busca da liberdade que me roubaram. Sou frágil, porém forte com meus sentimentos. A noite sempre procura a solidão e eu sempre procuro exatamente aquilo que não sei procurar.

O relógio pendurado na parede conta minucioso as horas que perco pensando na minha vida sem sentido e sem entusiasmo. Isso são pensamentos mórbidos que circulam como nuvens cinzas em minha cabeça pequena e sem miolos. Sou sim oco por dentro, não nego, de fato , não me apavoro. Cabeça vazia permite idéias mirabolantes. Cabeça vazia permite imersão de pensamentos que eu jamais poderia pensar.

Minhas noites são assim, chego do trabalho tétrico e desanimado. Apanho na geladeira presunto e cerveja. Ligo a televisão e o tele-jornal insiste em informar tristeza, dor e desgraça. Não, minha vida já é um desperdício.

No banheiro minha imagem refletida no espelho. Quando me olho tenho medo. Pareço um fantasma perdido em noites fúnebres. Meu castelo de areia se desfaz todos os dias.

Estou amuado, a água que cai do chuveiro perfura cada célula imunda do meu corpo. Tenho frio intenso, sinto-me um gelo, minha alma morta quer viajar pelo mundo, enfrentar tempestades, engolir o medo.

Deito-me , mas já estou de pé feito um soldado perto do seu oficial. O silêncio me domina, meus ouvidos doem. Da janela vejo o céu e fantasmas que disputam o espaço com as estrelas ofuscadas. Eles são assim assombram, mutilam o rutilar da constelação. Eu gostaria de ajuda-las , mas não posso , o brilho mora dentro delas, a força , a majestade tudo pertence a elas.

A fraqueza humana me dilacera , eu já fui uma estrela, Uma estrela enorme que iluminou muitas vidas. Hoje estou em total hostilidade. Meu espaço foi cercado e possuído por fantasmas.

Eu me transformei , a vida me ensinou o seu lado nada amistoso. Estou perdido, a vida é perdição, fragmentos de sonhos espalhados em nossos receios.

Chegou a hora de tentar dormir.A janela aberta , o ruído dos carros, passos caminham lentamente ao meu redor. São fantasmas que crio para poder aceitar os meus erros.

Prometi aceitar a vida como ela se declara para mim. Percebi que estou enjaulado. A chave para a minha liberdade está dentro do meu coração e talvez eu não queira usa-la.

Vejo a dança das horas. A madrugada me beija. O vento sacode a cortina da janela. Escuto sussurros, são eles os fantasmas roubando minha alma.Lá fora as estrelas... noite solitária, coração pesado.

Não penso em dormir, meu sono se esfarela como areia ao vento. Um pouco de cigarro e o vício é um fantasma que sustento faz anos.Penso em uma canção, resolvi cantar para as estrelas. Novamente, aqui estou diante delas. Agora, cintilam ,parecem fortes, robustas. Grito alto, penso em nascer , quero extinguir os meus fantasmas.Corro pela casa, abro minha porta. Estou de braços abertos. O meu fim não é a derrota, o meu fim é seguir o caminho estrelar.

Deitou-me no jardim, formigas me presenteiam com ferroadas. Tudo bem, deixo a vida por um segundo sem mim. Porque nesse momento, vivo apenas para os meus desejos.

Mayanna Davila Velame
Enviado por Mayanna Davila Velame em 28/12/2006
Reeditado em 11/11/2014
Código do texto: T329702
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.