Olhos solteiros

Abriu-se uma fresta na janela do tempo, e pelo estreito espaço que se via, ela se deixou passar.

De repente, sua opacidade tornou-se fluida, translúcida matéria intangível.

Sua vida mudara então.

Lá fora os passarinhos ainda cantavam e mesmo que a toada fosse a mesma, o sentido era outro: pura fruição estética.

Só, como sempre esteve, não se alterou seus dados pessoais. 40 anos depois ainda era filha, mas não se tornara mãe. A ninguém desposara, e não carregava o sobrenome de ninguém.

Mas, já sabia sorrir em paz consigo mesma, ao abrir os olhos solteiros em sua cama ampla.

Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 24/10/2011
Código do texto: T3294577
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