Olhos solteiros
Abriu-se uma fresta na janela do tempo, e pelo estreito espaço que se via, ela se deixou passar.
De repente, sua opacidade tornou-se fluida, translúcida matéria intangível.
Sua vida mudara então.
Lá fora os passarinhos ainda cantavam e mesmo que a toada fosse a mesma, o sentido era outro: pura fruição estética.
Só, como sempre esteve, não se alterou seus dados pessoais. 40 anos depois ainda era filha, mas não se tornara mãe. A ninguém desposara, e não carregava o sobrenome de ninguém.
Mas, já sabia sorrir em paz consigo mesma, ao abrir os olhos solteiros em sua cama ampla.