Solução final

Como taxista em Curitiba, já vivenciei muitas situações insólitas.

Roberto, um grande amigo, o irmão que não tive, meu grande parceiro nas inesquecíveis noitadas da capital: porres na Boca Maldita, o jogar conversa fora nos barzinhos da Rua XV de Novembro, vez por outra uma boate na República Argentina em
companhias belas e agradáveis.

Os churrascos e as vinas de finais de semana, acompanhados de geladinhas, a camaradagem entre os vários amigos.

E ele, sempre alegre, solteiro por opção, engenheiro por profissão há muito nos conquistara por seu carisma, um bom menino,enfim.

Há poucas semanas batera o carro e pediu-me para alugar meu táxi, por dois dias, dissera.

Até o seu ser liberado do conserto.

Dito e feito, não aceitou minha oferta, fez questão de pagar o aluguel do táxi, pois sabia que este é meu ganha-pão.

Devolveu-o no prazo acertado.

N'outro dia procurou-me, pedindo-me para acompanha-lo a um hospital da cidade, pois precisava apanhar o resultado de alguns exames que fizera.

Lá fomos nós, ele calado, um ar de preocupação que eu jamais presenciara.

Fiquei no carro, ele adentrou no consultório médico.

Retornou logo após com vários papéis encartados n'uma pasta amarelada.

- E aí, tudo bem companheiro?

Olhou-me, cabisbaixo, um sorriso tristemente disfarçado, distante...dizendo: tudo bem comigo.

Deixei-o frente à portadoria de seu apartamento na Avenida Vicente Machado, despedimo-nos com um sorriso e um rápido aceno.

Poucas horas depois a notícia: Roberto havia se suicidado com um tiro na boca.

O resultado dos exames? Câncer generalizado.

E ele tinha apenas 35 anos.



Obs.  Os nomes e os lugares são  fictícios, a história é veridica.

                              A procura da verdade é difícil e é fácil, já que ninguém poderá desvendá-la por completo ou ignorá-la inteiramente. Contudo, cada um de nós poderá acrescentar um pouco do nosso conhecimento sobre a natureza e, disto, uma certa grandeza emergirá.

(Aristóteles, 350 AC)