UMA LINDA MULHER

Era sexta-feira à noite, eu estava bebendo cerveja no bar da esquina com uns amigos, quando vi passar uma mulher exuberante: alta, corpo escultural, cabelos longos e dourados, usando um vestido vermelho vaporoso, nos pés um salto altíssimo. Não consegui ver seu rosto com clareza, mas fiquei encantado com aquela mulher tão exótica.

Não pude me conter, abandonei a cerveja, os amigos e fui atrás dela. Ela percebeu que eu a estava seguindo e apressou o passo, eu apressei também, precisava ver de perto aquela deusa. Como seriam seus olhos? Claros ou escuros? Teria uma boca carnuda ou lábios finos e delicados? Como seria sua voz? Que idade teria? Talvez uns vinte e poucos anos... Ela dobrou a esquina a passos largos, eu comecei a correr para alcançá-la. Ao perceber que eu corria, ela correu também e eu desesperado, gritei:

- Moça, por favor, espere! Não tenha medo! Não vou lhe fazer mal, quero apenas conversar.

Ela corria cada vez mais depressa e eu gritava:

- Por favor, me diga seu nome. Apenas o nome...

Fui ficando cada vez mais angustiado, ela não dizia palavra, continuava correndo e eu não conseguia vislumbrar seu rosto na escuridão.

Meu Deus, aquilo era um absurdo. Eu estava correndo como um louco no meio da rua, atrás de uma mulher que eu não conhecia e nem sabia ao certo que cara tinha. Mas quando a vi passar na frente do bar, senti um desejo tão intenso... como eu nunca havia sentido antes. E se aquela fosse a mulher da minha vida? Eu não podia perdê-la de vista, precisava alcançá-la.

De repente, ela fez sinal para um ônibus que vinha passando, o motorista parou e ela subiu. E agora? O que eu faço? – gritei para mim mesmo. Nesse momento, dobrou a esquina um motoqueiro. Eu já não podia mais controlar aquela curiosidade louca, então me joguei na frente da moto. O motoqueiro freou apavorado e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, dei-lhe um soco com toda a força, ele caiu no chão, eu subi na moto e segui atrás do ônibus.

Rodei muitos quilômetros naquela perseguição absurda, ela não descia nunca. Até que o ônibus chegou na última parada e ela não teve outra alternativa. Finalmente poderei ver o rosto dessa deusa – pensei. Mas ela desceu as pressas e enveredou-se por outra rua escura. Acelerei a moto e me atravessei com tudo na frente dela, obrigando-a a parar.

Ela pôs as mãos no rosto e gritou com uma voz estranhamente esganiçada:

- O que você quer de mim, seu louco?

Uma mulher tão bonita com uma voz tão horrorosa – pensei eu, mas disse:

- Eu vi você passar e fiquei fascinado pela sua beleza. Queria conhecê-la melhor. Por favor, tire as mãos do rosto para que eu possa vê-la em todo o seu esplendor. Qual é o seu nome? Para onde está indo? Talvez possamos sentar para tomar uma bebida e conversar um pouco. O que você acha?

Nesse momento, ela tirou as mãos do rosto, engrossou a voz e disse:

- Meu nome é Augusto, eu estava indo pra casa depois de fazer um show na boate drag onde eu trabalho. Agradeço os elogios e o convite, mas eu tenho mulher e três filhos pra sustentar. Só estou travestido assim porque essa foi uma forma que encontrei de ganhar uma renda extra. Passar bem!

A Alquimista
Enviado por A Alquimista em 07/10/2011
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