Até que a morte nos separe
A marcha nupcial tocou. Nervosamente, ajeitei meu vestido, enquanto as portas da igreja se abriam. Respirei longamente e me agarrei no meu pai, subindo os degraus que me levariam ao altar.
Finalmente! Depois de tantos anos na vergonha, com todos rindo de mim e me chamando de encalhada, finalmente esfregaria na cara deles meu casamento. Uma risada maléfica queria brotar, mas a segurei. Não ficaria bem nas fotos.
Quando meus pés tocaram o tapete vermelho, percebi que tinha alguma coisa errada. Quase tudo estava perfeito: havia o padre, as testemunhas, os convidados, os padrinhos, a dama de honra... Menos o noivo. O pânico me invadiu, mas me deixei sorrir e alcancei o altar. Perguntei, discretamente, onde estava meu futuro marido. Ninguém sabia.
As pessoas começaram a me olhar com um misto de compaixão e zombaria, porém minha pose de indiferença perdurou. Pelo menos até a meia hora seguinte. Aí não agüentei e fiquei desesperada. Mandei ligarem para ele, mas o celular só dava caixa postal. Quis chorar até me acabar.
Uma hora se passou. Os convidados já estavam entediados. Minutos depois, ligaram para o meu quase-sogro. Do hospital. Quando ele desligou o celular, sua expressão era de choque. Perguntei o que havia acontecido, contudo, já adivinhava o que viria a seguir.
Meu. Noivo. Tinha. Morrido. O carro que ele dirigia perdeu o controle e bateu em outro. As lágrimas que eu segurava vieram numa torrente. Mas como...? Por quê...? Isso não devia ter acontecido comigo! Não hoje, no que era pra ter sido o dia mais feliz da minha vida. Um grito histérico rompeu da minha garganta. Como aquele filho da mãe ousou morrer no dia do meu casamento?!