Loucura na Biblioteca Pública
Passei por muitas situações durante o tempo em que estou morando em Pelotas, mas nenhuma delas se compara com a loucura que fiz para tentar agradar Lúcia.
Foi nossa primeira visita a Biblioteca Pública Pelotense depois de vários dias fechado pra reformas. Fiquei espantado com a beleza do local e também com a arquitetura que faz a gente voltar no tempo. É como se ali encontrasse Simões Lopes Neto ou Lobo da Costa para uma conversa amigável.
Já Lúcia não perdeu tempo e reuniu um monte de livros em uma mesa perto da janela para ler. Gostava de todos os gêneros e lia desde Bradley até Veríssimo, passando ainda por Hemingway. Encasquetou ainda de ir ao segundo andar para dar uma olhada nos jornais antigos.
Seria ótimo se não tivesse a péssima mania de ler em voz alta tudo o que interessava. Não sabia nem onde ia me meter de tanta vergonha.
Um dia, quando estávamos saindo de uma dessas visitas, Lúcia cismou que queria de presente o livro que falava das memórias do Churchill durante as guerras da primeira metade do Século XX. Queria que eu o pegasse direto da Biblioteca.
Tentei argumentar pra ela que poderia se associar e pedir um empréstimo para ficar com o exemplar por alguns dias. Tudo inútil. Ainda ameaçou romper com o namoro se eu não desse o dito cujo.
Sem outra opção, lá fui eu durante a noite procurando um lugar pra entrar na Biblioteca e achar a tal da biografia do primeiro-ministro inglês. Vi um vão no porão e tentei entrar por ele. Só consegui isso graças a minha magreza.
Fucei lá dentro na tentativa de encontrá-lo. O máximo que pude fazer foi levar alguns arranhões de um gato que estava morando no bendito. E nada do tal britânico.
Estava tão furioso que resolvi sair do porão antes que algum guarda me encontrasse. Poderia dizer que não tive sorte ou que a publicação não estava lá, entretanto correria o risco de perdê-la. Maldito vício de leitura!!!
Foi quando surgiu na Praça Coronel Pedro Osório um vigia. Pensei que ia me prender devido ao roubo da Biblioteca, mas ficou comovido com o que falei e aconselhou-me a comprar outro exemplar no sebo localizado ali perto.
No dia seguinte, fui ao tal sebo e tive uma sorte danada de encontrar o livro que Lúcia tanto queria. Ela pulou de alegria e me cobriu de beijos.
Nunca vou esquecer-me da generosidade daquele vigia.
E nem da Biblioteca Pública.