Raios

Mãos suadas. Bexiga cheia a todo instante. Suor frio. Massa disforme que se locomove; fantasmas oriundos de almas mortas antes da matéria que – supostamente – as abrigou. Os ponteiros estão travados em 2 minutos. A chuva cai, forçando uma locomoção indesejada. O vento frio fustiga o rosto: olhos lacrimejam; lábios ardem; nariz congela; pessoas morrem e trepam em cômodos ordinários de cortiços embolorados e de atmosfera úmida enquanto eu te espero. A desesperança seguida de um trovão. A desesperança é um raio que mais de uma vez no mesmo lugar. Talvez você personifique um raio. Pois dele tem o brilho e a energia; pois você precede o ribombar em meu peito; precede a tempestade que vira minha existência quando – eu, pára-raios que sou – me atinge. Fio-terra de desesperança. Outro minuto congelado. Eterno. Que não passa. Só pessoas passam. Voyeur impaciente tornei-me. Voyeur do corre-corre de desconhecidos; de milhares de milhares de desconhecidos. Impaciente, parado batendo punk no pé. Um cigarro apagado, pendendo da boca. Out of control. Outro minuto descompassado. Outros milhares de rodopios das catracas. Outras milhares de pontas de guarda-chuvas pingando no assoalho de bolinhas emborrachadas. Outro trem-fantasma vazio, rilhando seus dentes nos trilhos – ódio, ódio, ódio. Os ponteiros agora correm, e Samsa sofre, parado com uma guimba frouxa entre os dedos. Esperando o que não vem. Mais uma vez.

28/09/2011 - 15h17m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 28/09/2011
Código do texto: T3246399
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