A feia acordada do bosque

É sabido que a beleza não é tudo em uma pessoa, ainda que aos valores estéticos sempre é dado prioridade nas escolhas, com leitura quase maniqueísta, ao belo, em detrimento do feio.

Isentos de hipocrisia, e na intimidade, confessamos a nós mesmos que a presença do que é belo sempre nos conforta mais que a proximidade do que é feio. A criança, em sua postura inocente, sempre associa a feiúra à pobreza e à maldade. Naturalmente temos discernimento para não confundirmos estética com ética, para não entendermos o feio como um agente poluente. Desatrelamos esta odiosa associação, mas não deixamos de sonhar com a mais bela, não escrevemos orientados por donzelas feias e nem obrigamos o mocinho a beijar aquela sem atributos na cena que antecede o The End; mas isso é apenas o colorido da arte, quando Sabemos que a verdade é monocromática.

Depois de muito caminhar, a Bela, que passeava pelo bosque, aproximou-se de uma cabana, para pedir um pouco de água e informação do caminho de volta para sua casa. A janela estava aberta e ela olhou por aquele vão e assistiu a um ritual de bruxedo; arrepiante, apanágio da velha bruxa Min, que morava naquele bosque, viu que a Dama do Mal preparava u´a maçã envenenada, e pelo que se podia entender, a maçã seria para ela, a Bela.

Dona de raciocínio rápido, a Bela aproveitou-se do descuido de sua adversária e, no lugar da maçã fatídica e sonífera, ela deixou a maçã da euforia, do entusiasmo e da alegria de viver, que lhe fora dada por sua bondosa Fada Madrinha.

A maçã é uma fruta emblemática, generalizada, sempre a citamos como veículo condutor ao não devido; talvez uma cultura que nos tenha sido deixada pelas práticas de bruxaria; e Madame Min, afeita a poções e a maçãs, de uso diversificado, distraidamente comeu o fruto do “bem”, sorrateiramente deixado ali, em substituição ao fruto do “mal”.

Metamorfose, transformações, Madame Min não conseguia mais dormir, vagava pelo bosque insoniosa e sem ter o que fazer.

A busca é a oficina da medicina, e aquela que sempre usara a maçã para alcançar seus objetivos passou a imaginar fórmulas e formas para tirar proveito daquilo.

Tanto insistiu em seu intento, e tanto estudo para lograr êxito que acabou prestando vestibular para Ciências Médicas, e com o nome, foneticamente, oriental que ostenta (Min) conseguiu ingressar com um honroso terceiro lugar.

Hoje, uma vencedora, ela ganha fortuna vendendo lascas de maçã, que ela decifrou a fórmula e patenteou, para estudantes que buscam prestar medicina, e precisam passar noites em claro estudando

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 24/09/2011
Reeditado em 24/09/2011
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