FRONTEIRA DO SILÊNCIO
 
                                    Capítulo XII
 
        Ventava muito. Já não sabíamos precisar quantos dias estávamos à deriva naquele pequeno pedaço de salvação para nós. O mar agitava-se cada vez mais e o dia permanecia nublado. Podíamos ver ao longe, raios cortando o céu e o ribombar de trovões e relâmpagos que clareavam o dia no lugar do sol.
 
Já não tínhamos forças e sequer esboçávamos qualquer reação ao balanço insistente do bote impulsionado pelas ondas que nos sacolejavam como se fôssemos uma insignificante bola de papel.
 
Parecia que estávamos numa montanha russa, sendo atirados em movimentos constantes pelas ondas enquanto a chuva aumentava e açoitava nossos corpos com pingos que pareciam pontas perfurantes. Ao menos tínhamos o consolo de poder aparar com as mãos um pouco da chuva para saciarmos a sede.
 
Rezávamos com toda nossa fé e esperança para que o pior não acontecesse. Enquanto o barco era arremessado pelas ondas pedíamos a Deus que nos protegesse e que não deixasse que tivéssemos o fim terrível de sucumbir afogados no mar.
 
Felizmente a chuva parou, o vento arrefeceu e o mar lentamente foi-se acalmando. Perdemos dois companheiros que infelizmente não resistiram à tempestade, tendo um caído ao mar sem que pudéssemos resgatá-lo de volta para o bote, e constatamos que outro havia morrido talvez pelo cansaço e pela debilidade física durante a tempestade, não nos restando outra opção que não a de jogar seu corpo ao mar acompanhado de nossas preces cristãs. Restava eu e o Tomaz naquela terrível aventura em busca da salvação de nossas vidas.
 
Ficamos recostados e sequer falávamos um com o outro para não gastar o pouco de energia que nos restava. Limitávamo-nos de vez em quando a olhar em volta na esperança de avistarmos alguma embarcação que pudesse nos socorrer.
 
Aproximava-se o fim da tarde quando o Tomaz murmurou devido a sua fraqueza: Estou vendo algo. Estou vendo algo. Perguntei: O que você está vendo, amigo? Deve estar delirando. Acalme-se. Como Tomaz insistia em apurar a vista na direção do que ele supostamente tinha avistado, imitei-o e olhei também na superfície do mar. Ele tinha razão. Algo na superfície a cerca de algumas centenas de metros aproximava-se de nós. Ao chegar mais perto fomos tomados de assalto, pois um enorme submarinho foi emergindo perto de nós. Logo ele estava na superfície. Era uma embarcação negra de terrível aspecto e em alguns minutos alguns homens fardados apareceram. Imediatamente um dos homens com roupa de mergulho atirou-se na água e nadou em nossa direção.
 
Olhei para o Tomaz e suspiramos aliviados. Deus ouviu nossas preces. Era o nosso resgate. O homem aproximou-se e amarrou uma corda no nosso bote, voltando a nado em seguida para o submarino sem sequer proferir uma palavra para nós. Quem se importava com isso? Queríamos era ser socorridos.
 
Já a bordo do submarino observamos que o mergulhador e os demais olhavam para nós e riam. Não entendíamos nada e esperançosos aguardávamos o instante em que começariam a nos puxar para a segurança do submarino. Olhando mais apuradamente pude enfim identificar a insígnia que alguns dos homens ostentavam nos uniformes e o emblema na torre do submarino. Eram alemães! Comecei a temer pelo pior.
 
Lentamente o submarino começou a se deslocar na superfície rebocando o nosso bote enquanto os homens riam e se compraziam da nossa situação. Essa situação prosseguiu por quase uma hora quando enfim, já quase escurecendo fomos tomados por total terror. Os homens entraram no submarino que em instantes começou a submergir arrastando o nosso pequeno bote. Foi aí que perdemos a esperança de salvação de vez.
 
O submarino se foi levando nossos botes nos deixando na superfície do mar dentro daquela água gelada. Debilitados do jeito que estávamos, em pouco tempo nos despedimos e o Tomaz desapareceu para sempre de perto de mim. Quando recobrei a consciência estava esticado numa praia totalmente extenuado. Com o pouco de força que ainda me restava arrastei-me para um lugar mais seguro e longe das ondas que quebravam na praia, entregando-me ao sono. Não me recordo o que aconteceu depois, só sei que após muito tempo recobrei a memória neste lugar maravilhoso que estamos.

 
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Cônsul POETAS DELMUNDO – Niterói – RJ
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 16/09/2011
Reeditado em 16/09/2011
Código do texto: T3223672
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