O Louco
Pela janela do quarto vejo a luz acesa na sala...
Há uma certa beleza na demência. Uma beleza terrível que acompanha todo o medo das ações inconseqüentes. Um suspiro pode causar, de súbito, um acesso fulminante de raiva.
E com olhos vidrados, com uma fúria que causa pavor, o louco quebrou copos e saiu pisando fundo, num risco, derrubando o que encontrou no caminho e enchendo a sala com a terra de um vaso que caiu e guardava a vida de uma flor...
No quarto, os olhos do louco já não demonstram ódio: estão fechados. E há uma serenidade plácida em seu semblante. Deitado, o louco dorme como quem não tivesse qualquer culpa: tranqüila e inocentemente. Não é possível temê-lo, então: se pode amá-lo.
Amar o louco como quem ama a brisa e seus nuances, cuja intensidade às vezes é devastadora. O louco é tão transitório...
E, ao ver dormir o louco, enxerga-se a peculiar beleza que emerge de seus perigo e inocência – a terra ainda está no chão da sala; dentro do louco a sorrir, entretanto, a flor morta vive...