A IRONIA DAS CAÇADAS ( PARÁBOLA )
INTRODUÇÃO
Gosto de escrever pequeninas parábolas
muito delicadas.
E é como se eu me deitasse no chão da
Alma, procurando mostrar seu jardim.
Suas árvores cujas folhas acendem fia -
pos de estrelas no ar , delicadísimas.
E é também um canto de Amor à Língua
Portuguesa que tem tons de escavadeira...
trazendo ouro em pepitas.
Enfrento então a areia, confiando na pala-
vra.
Tentando fazer um fio de óleo sobre o
Mar.
Dentro dele moram os peixes___ semean-
do borbolhas de coragem disfarçadas em es-
camas.
São o instante da "contuação" cheio de re-
ticências, onde ele diz Vida!...
Esta fala do relacionamento Pai e Filho,
tocando o Infinito. Como há o Eterno Filho ,
há o Eterno Pai. E mostra que a verdadeira
"caçada" nunca se conclui.Dona de Vida no
preservado Mistério, abre, em Amor, a porta
do Impossível...
j sunny
Eu e meu pai fomos caçar onças no Ti-
bete.
Ficamos lá metade de nossas vidas.
Não falávamos a língua __ descrevía-
mos com gestos, imitávamos o mosque-
ado no alaranjado dos pelos da espécie
com sons, batidas de pés no chão, riscos
( abstratos : ___ ruins de desenho ) na
areia.
Sempre alguém tinha visto uma __tão
vagamente que acreditávamos, porque ve-
rificávamos.
Sempre adiávamos o sabor do encon-
tro. Nunca pegamos uma.
Logo nos consolávamos.
Meu pai dizia ___ com olhos rumoro-
sos : "Amanhã!...Pegaremos uma amanhã..."
E continuávamos. Em busca. Em custos.
Conhecemos os circunrolares das mon-
tanhas, as bebidas Yakults, as renas, as al -
deias onde a pedra e a madeira marrons
conservavam juntas o senso do mistério .
Às vezes vinha, irresoluta, uma baita
saudade da América do Sul. Seus tropi-
cais ventos, orquídeas __ seus pântanos
suas praias. Suas casas, metades pedra
metade ar. Seus ares.
Um velhinho tibetano nos presenteou
com um ídolo __pintado em tons de ter-
ra ___ era todo o Mundo, a Terra em a-
zuis. Era tão vivo que espantava.
Deu-nos, também, um forte abraço.
Andavamos por ali, sempre surpreen-
didos por uma caravana, por viajantes so-
litários, pelas comunidades reunidas em
festas, sempre era uma surpresa, sem vai-
dade, surpresa concreta, nítida e simples...
direta como os alcances da luz do sol __
nosso andar.
O que vivemos é mais que as ilustrações
do National Geografic.
O Coração dos Aldeões.
Às vezes, cansados, depúnhamos nossas
espingardas ao chão... sentados, contem -
plávamos as altas montanhas no solzinho
do entardecer. Pássaros passavam __ mi -
grantes ?! __ em voo célere, as asas soltas.
Uma vez, uma formação de pássaros em
nuvem negra tinha um branquinho, via-
jando, perfeito e protegido no centro. Bem
no centro. E gafanhotos pulavam entre os
tufos e gramados.
Bebíamos de cantil a água de poços.
E a tarde quedava nítida ou irresumida.
Descanso ou marcha, sempre aparecia
uma estrela.
As fraldas das montanhas, coroadas de
cidades, se desenrolavam pra mais __ hu-
manas !__ que o infinito.
Margens puras de puro sol.E o descanso
nos recuperava a lembrança.
O mundo era nosso.