A história dele

“Estava cansado de brincar com a caneta. Já deixara o papel de lado. Olhava em volta repetidas vezes. Na verdade não sabia o que fazer.

Ele, o escritor, com seus 56 anos não tinha nada. É. Nada. Solitário e frio. Sem esperança. Obscuro. Infeliz, principalmente.

Seu café esfriara. Deu um gole mesmo assim. Seu rosto denunciou o amargo ao atingir a língua.

A mão esquerda apoiava a cabeça. Olhava, agora, o mundo lá fora. Tudo parecia tão fácil. Colocou a caneta sob o papel e começou:

‘Não sei amar. Na verdade nunca amei. Então como saber?

Passei toda minha vida dando vida aos meus eus (personagens) a ponto de esquecer do protagonista, eu. Eles sabem de tudo. Eu?

Queria poder fazer coisas simples: sentir.

Eu esqueci de conjugar meus verbos. Não coloquei adjetivos quando foi preciso.

Não dei vida à minha vida. Sem fantasias.

Simplesmente respirei. Mas sem. Entende?’

Ouviu-se um suspiro.

A cabeça atingiu o papel rabiscado com tanta força. Uma lágrima caiu.

As palavras tornaram-se pequenos fragmentos em meio a tanta matéria ali.”

A história dele estava pronta.

Mariana Rufato
Enviado por Mariana Rufato em 30/08/2011
Reeditado em 08/06/2013
Código do texto: T3191736
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