A história dele
“Estava cansado de brincar com a caneta. Já deixara o papel de lado. Olhava em volta repetidas vezes. Na verdade não sabia o que fazer.
Ele, o escritor, com seus 56 anos não tinha nada. É. Nada. Solitário e frio. Sem esperança. Obscuro. Infeliz, principalmente.
Seu café esfriara. Deu um gole mesmo assim. Seu rosto denunciou o amargo ao atingir a língua.
A mão esquerda apoiava a cabeça. Olhava, agora, o mundo lá fora. Tudo parecia tão fácil. Colocou a caneta sob o papel e começou:
‘Não sei amar. Na verdade nunca amei. Então como saber?
Passei toda minha vida dando vida aos meus eus (personagens) a ponto de esquecer do protagonista, eu. Eles sabem de tudo. Eu?
Queria poder fazer coisas simples: sentir.
Eu esqueci de conjugar meus verbos. Não coloquei adjetivos quando foi preciso.
Não dei vida à minha vida. Sem fantasias.
Simplesmente respirei. Mas sem. Entende?’
Ouviu-se um suspiro.
A cabeça atingiu o papel rabiscado com tanta força. Uma lágrima caiu.
As palavras tornaram-se pequenos fragmentos em meio a tanta matéria ali.”
A história dele estava pronta.