ELA E A WEB...
"Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com pessoas ou acontecimentos da vida real será mera coincidência".
Cionara é uma mulher de 57 anos, casada que, de repente, passou a vivenciar o desinteresse do marido, que demonstrava certo tédio pela vida familiar que levava.
Proprietária de uma pequena empresa que ela mesma dirigia. Trabalhava, desfrutava da companhia de várias amigas, tinha como se distrair, jogava cartas com elas e tinha um clube de leitura, apesar de sua vida doméstica estar cada vez mais difícil, na convivência com marido e dois filhos adultos.
Vez em quando, ia participar de eventos sobre moda numa cidade do norte do Paraná.
Certo dia recebeu um e-mail de uma antiga colega de faculdade que residia naquela região do Estado, convidando-a para fazer parte de sua rede de amigos no Facebook.
Em consideração à ex-colega aceitou e, logo estava com vários amigos na rede.
Depois disso, sua amiga lhe sugeriu adicionar um sujeito que, pela foto parecia boa-pinta, e como ele morava na mesma cidade da amiga, ela aceitou e interagia com esse novo amigo.
Ele começou a mandar mensagens com textos colhidos em livros, citações, poemas, tiradas filosóficas...
Passou a se interessar por aquilo, achando que o tal amigo parecia boa pessoa.
Respondia às mensagens, a coisa foi ficando rotineira e não passava um dia sem mensagem de um para outro. E o sujeito aparentando ser um verdadeiro “gentleman”.
Passaram-se quatro meses, a mulher estava cada vez mais fascinada pelo tal amigo, a história começou a se intensificar... Beijos para lá, beijos para cá, conversas mais instigantes e, quando deu por si, já estava apaixonada pelo sujeito que se dizia industrial, divorciado, que estava à procura da mulher que parecia haver encontrado nela.
De fato, era uma mulher bonita, cabelos compridos, corpo esbelto, bem cuidado, falava muito bem, tinha bom nível cultural. Mas, caiu na conversa do sedutor...
Já fazia planos para ir ao norte do Paraná se encontrar com o conquistador, que já havia lhe telefonado algumas vezes, com uma voz de Don Juan e caíra como um patinho...
Estava tudo acertado. Viajaria para lá no próximo fim de semana, todavia, ao verificar seus e-mails, notou um que era de uma mulher que se dizia uma amiga, abriu, começou a ler e quase teve um desmaio.
A mulher se chamava Tereza e falava que fora a terceira mulher do seu namorado virtual; que o cara era um cafajeste de marca maior. Um sem-vergonha, machista, bateu muito nela e nas outras. Inclusive, anexou a cópia de um boletim de ocorrência que ela havia feito na Delegacia de Polícia quando da última surra que ele havia lhe aplicado. Dizia que, além disso, o cara era metido a conquistador insaciável, vivia saindo com mulheres, mesmo estando casado. Um mau caráter mesmo. Contava, no relato, que estava fazendo aquilo, porque jurara que não o deixaria arrumar nenhuma outra mulher para casar. Iria segui-lo onde ele fosse para desmascará-lo e, quando ele viu que na cidade estava difícil, visto ela não lhe dar trégua, resolveu apelar para a Web. Ela descobriu, e também na Web passou a segui-lo. Nos sites em que descobria o nome dele, entrava também e tratava de avisar todas as mulheres que passavam a conhecer o ex-marido. Falava que até a foto dele nada tinha a ver com realidade atual, que ele não era mais o galã que aparecia na foto, ela que não se iludisse, pois naquela foto ele estava 25 anos mais novo...
Cionara ficou impressionada e, imediatamente, mandou mensagem para sua amiga chamando-a de leviana porque não verificou que tipo de gente empurrou para ela.
Todavia, o pior é Cionara, dias depois, pensou em adicionar homens de fora do país, achando que assim não corria tanto risco.
Então, adicionou portugueses, americanos, ingleses. Falava muito bem o idioma inglês.
Logo se interessou pela aparência de um sujeito de nome Paul, que dizia ser jornalista e escrevia num tablóide em Londres. Ele até mandara o endereço eletrônico do jornal na Web; falava de literatura, poesia, sociedade, etc.
Também pediu a ela para conversarem na webcam.
Assim, pela webcam via e conversava com Paul, um cara bonito, intelectual, parecia ser gente boa, um cara sensível.
A relação foi esquentando cada vez mais... A ponto de ela abandonar seu negócio nas mãos de empregadas e passar o tempo todo na Web. Estava totalmente subjugada por aquela necessidade de estar vendo e falando com Paul e de estar na web. Não via suas amigas, só queria saber dele.
Um belo dia, depois de conversas “calientes”, o clima estava intenso entre o dois, Paul disse que iria pedir algo. Impressionou-se, mas, afinal, já estava totalmente apaixonada, indagou o que seria. Ele lhe disse para ficar só de lingerie, pegar um cinto e começar a se chicotear. Como ele não estava presente para chicoteá-la, ao menos queria ver de longe. Gostava de chicotear... Essa era a tara dele... Cionara, meio a contragosto, disse que jamais iria fazer isso. Ele insistiu, fez biquinho, pediu tanto que ela quase cedeu. Mas não fez.
Nesse meio tempo, um americano, pediu para ser amigo dela. O cara não tinha foto, mas dizia que era casado, com filhos, etc. etc., ela aceitou.
Dias depois, recebeu mensagem do americano que se chamava Louis, enaltecendo a beleza dela, fazendo imensos galanteios, enfim, elogiou-a tanto que Cionara respondeu e logo passaram a conversar mais amiúde.
Perguntou-lhe por que não mostrava o rosto, ele disse ser por causa da esposa que concordara com sua entrada na rede, mas sem mostrar o rosto.
Mas, o sujeito era bom de conversa, dizia-se químico, contou uma série de histórias envolvendo sua vida familiar, que trabalhava em empresa com filiais espalhadas pelo mundo. Assim, também foi se afeiçoando ao Louis.
Sua vida passou a existir em função da Web... Era dia e noite. Durante o dia falava com Paul, à noite com Louis.
E Paul continuava insistindo...
De repente, sentiu que estava gostando também do Louis. E não sabia o quê fazer agora. Paul, Louis, ou os dois... E uma lista enorme de outros homens solicitavam amizade...
Conversando com uma amiga íntima que aparecera na sua loja, acabou contando tudo o que sucedia com ela.
A amiga quase caiu da cadeira, e disse que ela estava louca, alienada mental. Primeiro quase que caíra nas garras de um malandro do Brasil e agora estava caindo nas garras de dois estrangeiros. Onde estava com a cabeça, apaixonar-se daquele jeito? Que procurasse psicólogo, psiquiatra, terapia, qualquer tipo de ajuda.
Essa amiga tanto argumentou, falou que a Web está cheia de verdadeiros malandros, conquistadores, e de gente ruim, disfarçadas atrás de fotografias que nada tem a ver com elas. Também sugeriu que apagasse tudo ou iria perder completamente a sanidade.
Sua amiga foi-se embora, começou a pensar e teve um arrepio de medo... Resolveu buscar ajuda. Marcou com um psicólogo. Iria buscar terapia alternativa. Mas, a Web, Paul, Louis, não saíam de sua mente. Era uma espécie de crise de abstinência... Sentia-se muito mal. Começou a chorar convulsivamente. Realmente, podia estar perdendo o juízo. Onde já se viu tanto absurdo de uma vez só?
Primeiro um Don Juan, depois um maluco, que gosta de chicotear mulheres, e ainda por cima outro que não tem rosto. Sentiu vontade de gritar por socorro...
Sua cabeça doía, apanhou uma caixa de fortes analgésicos e tomou logo três de uma vez, pouco depois, sentiu tudo apagar... Quando acordou, dias depois, estava numa unidade de terapia intensiva se recuperando de um AVC que havia sofrido.
Depois de algum tempo, ainda em recuperação do acidente vascular, buscou ajuda de terapia para tirar Paul, Louis, a Web de sua mente, pois ainda sentia vontade de falar com eles.
Pedia ao terapeuta que explicasse as razões disso tudo, como se ele tivesse as respostas... Perguntava em prantos, se aquilo era motivado pela carência afetiva, insatisfação, solidão ou prazer de se ver bajulada por mais de um homem. E o porquê dessa obsessão pelos relacionamentos na Web...
Fala com certa dificuldade ainda, mas chora o tempo todo. O que será dela?!...