Xilo
Metade da garrafa consumida e os espasmos ficando cada vez mais fortes. Ele está acuado entre saciar as necessidades fisiológicas e abandonar o precioso líquido e o raro raciocínio, que é derramado aos gritos silenciosos através de seus dedos. Mas é isto ou a pasta marrom acrescentando peso à roupa de baixo, seguida do fedor que iguala ricos e pobres, meretrizes e rainhas. Cogita levar a garrafa, mas logo imagina os coliformes fecais descendo em espiral em direção ao gargalo, e desiste. Troca o peso das ancas na cadeira, dá um longo gole, contrai o esfíncter - após meticulosamente deixar passar um sopro de ar fedorento - e relê o que escreveu até então. Constata que se sai melhor com as palavrinhas quando está sofrendo de constipação intestinal. Ri-se, satisfeito, insere mais algumas palavras, intitula o conto, coloca o ponto final, dá mais uma talagada - curta, desta vez - e se encaminha até o banheiro, cruzando os cômodos impregnados pelo odor de morte que o restos de sua infiel companheira - jazidos e espalhados por todos os cantos da casa (vísceras purulentas e pedaços externos serrados e intumescidos e arroxeados) - exalam. A escritura gravada com uma goiva no teco disforme que um dia fora um antebraço o havia satisfeito ao ponto da garrafa ter sido posta de forma displicente ao lado da latrina. "Que se danem os coliformes fecais", bradou, enxugando a garrafa, com o reto em solavancos.
17/08/2011 - 23h21m