Minha História/Depoimento de uma morta IV

Havíamos terminado a colheita, finalmente! Não tinhamos forças para trabalhar nem mais um dia naquele rítmo.

Trabalhávamos de sol a sol todos os dias há meses, e não tivemos outra alternativa, a não ser ficar descansando em casa por um dia.Mesmo assim senti uma leve melancolia, já me achava "madura" e os dias felizes de minha infância ficaram para trás, passando a existir só nas lembranças.

Mamãe estava cansada de trabalhar tanto e começou a falar em ir embora para outro lugar. Queria vender as terras. As pessoas que nós conhecíamos e que poderiam comprar, não ofereceram a quantia que as terras valiam. Papai lutou muito para lavrar a terra árida.

Todos nós sofremos, para ver aqueles cafezais darem a primeira safra. E agora, não entregaremos nossas terras a preço de bananas.

Então seguimos trabalhando, eu e Marcelo voltamos as aulas na paróquia e tudo corria relativamente bem.Até que um dia chegou um homem um pouco velho, bem arrumado. Aparentava ser um daqueles coronéis, já maduros,' mas era bem conservado", como disse mamãe. Fiquei olhando para ele,pensando: "talvez ele compre as terras , e talvez apareça meu príncipe para me levar para bem longe onde eu pudesse esquecer a tristeza que este lugar evoca."

Mas ele demora muito para aparecer, só aparece quando sinto saudades e penso nele.

Nunca mais vi mamãe sorrir desde a tragédia com papai,acho que eu também não. Mas os pensamentos voavam para lugares distantes e sonhava com o meu príncipe, que vinha montado num cavalo branquinho, como uma nuvem, todo arriado em dourado com detalhes em vermelho na sela. Suas botas então, eram tão brilhantes, que até ofuscava ao sol. Sua armadura então, nem se fala!

maggí
Enviado por maggí em 14/08/2011
Reeditado em 17/08/2011
Código do texto: T3158833