FRONTEIRA DO SILÊNCIO
 
                                     Capítulo V
 
          A bóia balançava muito, as ondas ficavam cada vez mais forte uma após a outra. Era noite ainda. O céu não tinha estrelas, era uma escuridão total só clareando vez por outra por clarões de raios distantes. O vento aumentava de intensidade prenunciando uma tempestade. Já sentia gotas de chuva pelo corpo. Eu só via alguma coisa quando relampejava. O mar que antes estava calmo se agitava. A chuva aumentou de intensidade e com ela o frio. 
 
        Ventava muito e chovia torrencialmente. As ondas se sucediam, açoitando a bóia, e a cada onda que a atingia, parecia que ela não suportaria a força do mar. Eu começava a achar que estava tudo perdido, acreditando que não sobreviveria até que me encontrassem. Cheguei a pensar que repente aquela bóia não fosse suportar e se soltar da corrente de ferro que a prendia. Eu nada pude fazer e nem tinha como me abrigar. Tentei suportar, pois precisava estar vivo no momento que me encontrassem. A única vantagem foi que consegui de alguma forma captar água da chuva com as mãos e saciar a sede. Ao longe eu via no mar os clarões dos raios. Para minha sorte caíam longe do lugar que eu estava. À medida que caíam os raios o mar ficava mais agitado e as ondas mais altas. Agarrei-me com força para não ser lançado na água. Fiquei rezando e pedindo a Deus que mandasse um socorro. Mas o tempo passava e nada de chegar ajuda. Eu não tinha noção do tempo nem mesmo sabia se ainda era noite ou se já era dia, pois a tempestade se prolongara. Haviam passados alguns dias e eu já me sentia fraco. Só sei que me esforçava cada vez que pressentia que a bóia seria movimentada por uma onda e me segurava com força buscada não sei onde para sobreviver.
 
      Eu precisava sobreviver até o meu resgate. Era imprescindível que eu mantivesse a lucidez e a calma e que não deixasse o desespero me dominar. O tempo foi passando, passando, o vento diminuindo e a chuva foi abrandando gradativamente. O mar não mais se agitava. As ondas diminuíram de intensidade e com o passar do tempo tudo se acalmou. Ainda estava escuro. Consegui ver algumas nuvens escuras no céu, resquício ainda da tempestade que findou. Só então pude perceber que era noite. Entendi então que a tempestade começara na madrugada da noite anterior, perdurou por um dia inteiro e se prolongou na noite seguinte. Mal podia sentir meu corpo enregelado. Eu respirava com dificuldades por que tremia muito de frio, no entanto ainda estava vivo e isso era o que importava. Procurei agradecer a Deus por essa graça e esperar o dia clarear e aguardar o socorro. Sentia fome e frio, meu corpo já dava sinais de fraqueza e pensei em descansar um pouco aproveitando que o mar se acalmou. Adormeci agarrado nos suportes da bóia.

 
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Cônsul POETAS DELMUNDO – Niterói – RJ
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 05/08/2011
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