FRONTEIRA DO SILÊNCIO
 
                                     Capítulo II
 
   O fim da primeira guerra mundial transformou-se no ponto de partida de novos e irreconciliáveis conflitos, pois o Tratado de Versalhes assinado em 1919 disseminou um forte sentimento nacionalista, que culminou no totalitarismo nazi-fascista. As contradições se aguçaram com os efeitos da Grande Depressão. Nesse cenário, surgiram e se consolidaram vários regimes totalitários na Europa. O germânico de origem austríaca Adolf Hitler do Partido Nazista que se tornara o Fürer do Terceiro Reich defendia que a Alemanha necessitava mais espaço vital, e pretendia conquistá-lo na Europa Oriental (política que, ao lado da contraposição ideológica, o levaria, cedo ou tarde, ao confronto com a URSS). Valendo-se da política de apaziguamento praticada pela Grã-Bretanha secundada pela França, Hitler conseguiu, inicialmente, concretizar uma série espantosa de conquistas incruentas: remilitarizou a Renânia, anexou a Áustria, e incorporou os Sudetos, destruindo a Tchecoslováquia. Mas quando avançou sobre a Polônia, os ingleses e franceses reagiram, iniciando-se a Segunda Guerra Mundial.

   Embora estivesse sendo comandado por um regime ditatorial simpático ao modelo fascista (o Estado Novo Getulista), o Brasil acabou participando da Guerra junto aos Aliados. Isto porque a partir de fevereiro de 1942, submarinos alemães e italianos iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras no oceano Atlântico em represália à adesão por parte do Brasil aos compromissos da Carta do Atlântico (que previa o alinhamento automático ao lado de qualquer nação do continente americano que fosse atacada por uma potência extra-continental) De fundamental importância para que o governo brasileiro paulatinamente se alinhasse com os Estados Unidos e consequentemente a causa aliada foram: as tentativas veladas de ingerência nos assuntos internos brasileiros por parte da Alemanha e Itália, especialmente a partir da implantação do Estado Novo; a progressiva impossibilidade a partir do final de 1940 de manter relações comerciais estáveis e efetivas com estes países devido a pressão naval britânica e posteriormente americana exercida contra os mesmos e a chamada política de boa vizinhança levada a cabo pelo então presidente americano Roosevelt que entre outros incentivos econômicos e comerciais financiou a construção de uma gigantesca siderúrgica, a  CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) em território brasileiro.

   Também, durante o ano de 1942, em meio a incentivos econômicos e pressão diplomática, os americanos instalaram bases aero-navais ao longo da costa Norte-Nordeste brasileira, sendo a base militar no município de Parnamirim, vizinho a capital Natal, no estado do Rio Grande do Norte, a principal dentre estas. Bases às quais os militares brasileiros tinham acesso restrito e controlado. Tendo sido a de Parnamirim de especial importância para o esforço de guerra aliado antes do desembarque de tropas Anglo-Americanas no Norte da África em novembro de 1942 na Operação Tocha, complexo de bases esse que foi popularmente apelidado na época de "Trampolim da Vitória", devido à importante contribuição tática proporcionada para a frente norte africana. A partir da estabilização da frente italiana em fins de 1943 e do enfraquecimento da campanha submarina alemã, as bases americanas em solo brasileiro foram sendo progressivamente desativadas ao longo de 1944-45, embora na da ilha de Fernando de Noronha os americanos tenham permanecido até 1960.

   Somente devido à pressão popular é que se deveu a declaração de guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista em agosto de 1942, após meses de torpedeamento de navios mercantes brasileiros. Assim como a existência da Força Expedicionária Brasileira, que teve sua formação inicialmente protelada por um ano após a declaração de guerra e seu envio para a frente iniciado somente em julho de 1944, quase dois anos após a declaração e mesmo assim tendo enviado cerca de 25 000 homens de um total inicial previsto de 100 000.

   A contribuição que a Marinha Mercante do Brasil deu ao esforço de guerra aliado foi de vital importância no desenrolar do conflito. Pagou pesado tributo com expressivas perdas materiais, sobretudo em vidas de brasileiros imolados às centenas com torpedeamentos dos nossos navios por submarinos alemães e italianos no exterior e principalmente na costa brasileira.

   A frota de navios mercantes brasileira começou a ser atacada antes da entrada do Brasil na guerra, por submarinos nazistas e fascistas, depois dele haver rompido relações com o Eixo, em vinte e oito de janeiro de 1942, junto com as demais nações americanas. Em conseqüência, Hitler destacou para o Atlântico Sul e inclusive para a costa brasileira, submarinos para atacarem navios mercantes brasileiros e aliados que navegavam por águas territoriais do Brasil. Entre os dias quinze e dezessete de agosto de 1942, foram afundados cinco navios mercantes brasileiros. Estes fatos provocaram grande indignação e revolta nos brasileiros, de norte a sul, levando o governo do Brasil a reconhecer, em vinte e dois de agosto de 1942, o estado de beligerância do Eixo contra ele. Antes de sua entrada na guerra, o Brasil teve torpedeado vinte e dois navios. Estes, somados aos dez torpedeamentos durante a guerra, totalizaram trinta e duas perdas. A maior intensidade dos torpedeamentos aconteceu no litoral do Nordeste, e Recife e Salvador e até dezembro de 1943. Triste estatística que enlutou tantos lares no Brasil. 
   
  Foram expressivas as perdas humanas em nossa Marinha Mercante em função dos torpedeamentos. Elas atingiram a impressionante cifra de 972 mortos (dos quais 470 tripulantes e 502 passageiros) no total de 1.889 brasileiros mortos em função da guerra ou mais de 51% deles.A Marinha Mercante Brasileira, entidade civil, pagou, pois, lado a lado com militares brasileiros das três forças, pesadíssimo tributo em sangue e vidas, no esforço de guerra brasileiro. Por esta razão suas heróicas vítimas, mártires da democracia e da liberdade mundial, repousam no Monumento aos Mortos do Brasil da Segunda Guerra Mundial, ao lado de heróis mortos da Marinha de Guerra, Exército e Aeronáutica, no aterro do Flamengo. 

  Por longos anos existiu a versão que o torpedeamento de navios mercantes brasileiros, que determinou a entrada do Brasil na guerra, foi realizado por submarinos americanos.  Diversos historiadores têm encontrado a resposta negativa em arquivos de história naval na Alemanha, inclusive no Diário do Comando Alemão dos Submarinos, onde consta o registro dos afundamentos por seus submarinos, de mercantes brasileiros, com respectivos nomes, posição e circunstâncias.

   Relembrando estes fatos, Raimundo passou a contar sua história ao neto que se mostrava todo interessado em ouvir.

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Cônsul POETAS DELMUNDO – Niterói – RJ
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 02/08/2011
Reeditado em 04/08/2011
Código do texto: T3135498
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