Marulho

Não tem segredo: é só colocar no ouvido que logo aparece o barulho do mar. Não dá pra escutar toda a plenitude dos haustos de ar sibilando por causa da bagunça dos favelados que acampam no meu portão. Peguei emprestado agora há pouco com eles, inclusive. Todavia, um som que muito se assemelha com um ronronar felino tem interrompido meus planos e até mesmo a celeuma mista com música deplorável; um ronronar de muitos gatos. Julhinho? Cidinho? Chico? Bento? Satanás? Branquinho? Cililinho? Malelinho? Não, impossível... todos eles há muito que já se foram. Envenenados. Também fui envenenado, mas de outra forma. Assim como todos os outros o foram e ainda não se deram conta. Também pode ser somente algum pedaço de bosta obstruindo a passagem d’água nalgum cano que está fazendo esse barulho. Voltemos ao mar; primeiro o mar. Depois – depois de puxado o gatilho –, à cachoeira. De sangue. Oi, Budd Dwyer!

27/07/2011 – 17h45m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 27/07/2011
Reeditado em 08/05/2012
Código do texto: T3122692
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