A garota do porão
Desde seu nascimento Alice foi rejeita pelo pai. E com a morte de
sua mãe por volta de 1970. Tudo piorou em sua vida.
Numa tarde como as tantas outras já vividas em seus sete e tristes anos de vida a garota fazia as estripulias como qualquer criança de sua idade. Brincava solitária, porém feliz, com sua boneca quando que por infelicidade ela a arremessou acertando em cheio a garrafa de um refinado uísque que seu pai tomava. O homem visivelmente irritado ergueu-se da poltrona xingando aos berros a garotinha, Alice o olhava inocentemente tentando entender o que ele dizia. Nunca havia ido nem a escola, sequer havia conhecido um livro. O homem bradando e esborrifando uísque no rosto da garota deu-lhe uma tapa no rosto. As gotículas caíam e a garota chorava sem entender o porquê daquilo. O homem agarrou-a pelos cabelos arrastando-a. Quando chegou a porta madeirada do porão jogou a garota, fazendo-a cair rolando as escadas. A menina passou o resto daquela tarde chorando no escuro porão.
Os dois dias se passaram até ela ver a luz novamente. O pai abriu a porta e colocou, sobre o degrau da escada, um prato abarrotado de comida e um copo de suco. A menina trucidou a comida em pouco tempo. Estava faminta após passados os dois dias sem comer. Mais dias se sucederam e a garota continuava lá. Sozinha, com frio e com fome. A menina adquiriu uma cor pálida, seus olhos adaptaram-se ao ambiente adquirindo uma cor amarelada. E assim os dias sucederam-se mais dez anos.
Um mau cheiro exalava por toda casa. Um dos vizinhos bateu no portão e nada. No dia seguinte novamente e também ninguém respondia. Outro dia se passou e como ninguém saiu o homem chamou a polícia. Minutos depois duas viaturas chegaram e os policiais entraram na casa. Quando abriram a porta o cheiro de podre foi levado até os pulmões do homem que logo entendeu o porquê da ausência de Carlos.
Quando escutou o falatório dos policiais a garota agora com dezessete anos bateu na porta do porão clamando por ajuda. Os homens logo destruíram o cadeado. A garota pálida de olhos amarelos. Foi levada para fora e quando viu a luz do sol depois de dez anos trancafiada no porão caiu de joelhos ao chão e chorou lembrando-se dos anos passados naquele lugar.
Hoje Alice é casada, mãe de dois belos e bem cuidados filhos. Mas nunca esqueceu daqueles tristes anos vividos. E até hoje agradece a Deus todos os dias pela morte de seu pai.