O MENINO QUE FALAVA COM O VENTO
Ninguém nunca soube de onde ele veio e nem quem eram os seus pais, nem o seu nome, dele nada souberam... Ouviram o seu choro depois de uma ventania que durou a noite toda...
A tapera de Pedro do Nó ficava a alguns metros da praia e foi Nena, quem primeiro ouviu o choro. Ainda deitada na cama simples, apurou os sentidos escutou. Era um choro de criança. Um choro rasgando a quietude que vem depois da ventania.
Mas quem seria louco para sair naquela escuridão e ainda levando uma criança? Seria Babete e seu filho?
Levantou-se no escuro e foi até a janela, olhou a escuridão. Não viu nada. Escutou o mar quebrando nas pedras. Talvez tivesse sonhado.
-É isso! É sonho...
E pensando assim, voltou para a cama tendo o cuidado de não acordar Pedro, que roncava a sono solto. Aconchegou-se ao marido e tentou dormir. Tinha que dormir. Levantavam cedo para o arrastão. Eram pessoas simples, pecadores. Do mar tiravam o seu sustento. Nena ficou em silêncio e cochilou, sentindo o cheiro e o calor de seu homem.
Pedro do Nó - fazedor de redes, pescador dos bons. Valente na briga com o mar, seu homem, seu sustento. Seu amor. Tiveram 7 filhos homens. O mar levou Geninho enquanto Nena catava mariscos nas pedras. Veio uma onda. Uma onda forte e lambeu a vida de Geninho sem que ela pudesse fazer nada. O mar devolveu o corpinho sem vida depois de muita reza. Sinhá Benta rezou e pediu a Iemanjá que devolvesse o corpo de Geninho para que a mãe
pudesse levar o filho até a cova. Deu flores e velas pra Rainha do Mar. Nena era uma tristeza só.
-Sinhá Benta, pede meu filho de volta. Quero dar a ele uma cova na terra e não na barriga dos peixes.
Sinhá Benta olhava o mar e rezava.
-Aqueta esse coração Nena. Num dianta chora. Teu fio num te pertence mais. Mas um dia ele vai vortá. Ocê é mãe, e vai dá o descanço pro teu fio. Agora cala...
E mais uma vez, Nena escutou o choro. Desta vez, chamou o marido. _ Pedro! Acorda homê de Deus.
E sacudiu Pedro, que acordou de sobressalto. _ O que foi Nena?!
_ Tem gente lá fora... Escuta! Tem criança chorando. Acho que é Babete cum as criança. Melho cê ir dar uma olhada. Vá, que Clemete num tá em casa. Num vi ele hoje na limpa dos peixe e Babete tá de barriga...
Mesmo contariado, Pedro do Nó levantou. Calçou os chinelos de couro e vestiu uma camisa. Era melhor
dar uma olhada. Nena tinha razão, tava escutando um choro de criança. Podia ser uma das criança de Clemente. Pegou a lanterna na mesinha ao lado da cama e saiu, enquanto Nena ficou na janela.
-Anda homê... Dexa de moleza.Vai lá...
[...]
Ninguém nunca soube de onde ele veio e nem quem eram os seus pais, nem o seu nome, dele nada souberam... Ouviram o seu choro depois de uma ventania que durou a noite toda...
A tapera de Pedro do Nó ficava a alguns metros da praia e foi Nena, quem primeiro ouviu o choro. Ainda deitada na cama simples, apurou os sentidos escutou. Era um choro de criança. Um choro rasgando a quietude que vem depois da ventania.
Mas quem seria louco para sair naquela escuridão e ainda levando uma criança? Seria Babete e seu filho?
Levantou-se no escuro e foi até a janela, olhou a escuridão. Não viu nada. Escutou o mar quebrando nas pedras. Talvez tivesse sonhado.
-É isso! É sonho...
E pensando assim, voltou para a cama tendo o cuidado de não acordar Pedro, que roncava a sono solto. Aconchegou-se ao marido e tentou dormir. Tinha que dormir. Levantavam cedo para o arrastão. Eram pessoas simples, pecadores. Do mar tiravam o seu sustento. Nena ficou em silêncio e cochilou, sentindo o cheiro e o calor de seu homem.
Pedro do Nó - fazedor de redes, pescador dos bons. Valente na briga com o mar, seu homem, seu sustento. Seu amor. Tiveram 7 filhos homens. O mar levou Geninho enquanto Nena catava mariscos nas pedras. Veio uma onda. Uma onda forte e lambeu a vida de Geninho sem que ela pudesse fazer nada. O mar devolveu o corpinho sem vida depois de muita reza. Sinhá Benta rezou e pediu a Iemanjá que devolvesse o corpo de Geninho para que a mãe
pudesse levar o filho até a cova. Deu flores e velas pra Rainha do Mar. Nena era uma tristeza só.
-Sinhá Benta, pede meu filho de volta. Quero dar a ele uma cova na terra e não na barriga dos peixes.
Sinhá Benta olhava o mar e rezava.
-Aqueta esse coração Nena. Num dianta chora. Teu fio num te pertence mais. Mas um dia ele vai vortá. Ocê é mãe, e vai dá o descanço pro teu fio. Agora cala...
E mais uma vez, Nena escutou o choro. Desta vez, chamou o marido. _ Pedro! Acorda homê de Deus.
E sacudiu Pedro, que acordou de sobressalto. _ O que foi Nena?!
_ Tem gente lá fora... Escuta! Tem criança chorando. Acho que é Babete cum as criança. Melho cê ir dar uma olhada. Vá, que Clemete num tá em casa. Num vi ele hoje na limpa dos peixe e Babete tá de barriga...
Mesmo contariado, Pedro do Nó levantou. Calçou os chinelos de couro e vestiu uma camisa. Era melhor
dar uma olhada. Nena tinha razão, tava escutando um choro de criança. Podia ser uma das criança de Clemente. Pegou a lanterna na mesinha ao lado da cama e saiu, enquanto Nena ficou na janela.
-Anda homê... Dexa de moleza.Vai lá...
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