CONTO DE UM SONHO.

 

 

 

 

Provável? Possível?

 

 

 

 

A gente não tem experiência de morrer.

 

 

 

 

Hoje, sonhei com uma situação que a qualifico de provável e possível, embora, se trate de uma manifestação anímica ou uma decodificação não inteligível do inconsciente.

Na verdade, não sei como começar este conto, porque ele foi naturalmente: metafísico e anímico, ocorrido por meio de um sonho.

Não sei se posso chamá-lo assim, mas em se tratando de um sonho, quero crer que tudo seja possível, quando nos deparamos com eventos metafísicos inconscientes, essas eventualidades que não podemos provar fisicamente.

Quem saberá o que o inconsciente tem gravado durante toda a vida?

E que, num determinado lapso de tempo, geralmente em estado de sono profundo vem à tona com os seus símbolos que, a meu ver, não são decodificados plenamente pelo consciente.

Vejamos o que ocorreu no meu sonho, a bem da verdade, um sonho espetacular, entretanto carregado de um assombroso acontecimento.

Um mistério que em alguma etapa da minha vida foi gravado no inconsciente ou, melhor dizendo, no mais profundo do subconsciente, exatamente no Id, pois lá também está gravada a famosa “Sombra”.

Lá no mais profundo interior do meu mediterrâneo existencial, está submerso um Iceberg misterioso e confuso, (arquétipos) que só falam comigo através dos sonhos, mas é difícil a sua total compreensão.

Enfim, sonhei com a minha própria morte quando, eu mesmo me sepultei.

Quero com isso dizer que, eu mesmo escolhi o meu túmulo, verifiquei o local e até o achei mesmo aprazível.

Estava comigo uma pessoa conhecida que há muito não vejo, mas que naquela hora, a hora do meu sepultamento, me parecia muito íntima e amiga.

Senti a sua amizade quando o informei que o meu túmulo também tinha buracos laterais, rachaduras, como o que estávamos consertando naquela hora.

Essa pessoa, o Sr. Urias, se comunicava com o meu espírito, eu é que não entendia o que estava acontecendo, pois nessas alturas o meu mundo já era outro.

Foi nessa ocasião que essa pessoa demonstrou a sua amizade por mim, dizendo-me que taparia os buracos, e que eu não precisaria ajudá-lo para não me deprimir mais, pois estaria tapando os buracos do meu próprio túmulo.

Vi tudo com clareza e não era tão ruim assim a dita experiência de morte onírica, talvez um ensaio ou uma antevisão do que ocorrerá comigo algum dia, com toda certeza.

Terminado os últimos cuidados com o meu próprio sepultamento, sai andando normalmente como se não houvesse morrido.

Eu quero crer que tenha sido o meu próprio espírito, pois ele ainda não havia entendido ou se identificado com a morte do meu corpo, desta forma, agindo como se vivo estivesse.

Era uma sensação muito gostosa, entretanto sentia-me apartado do mundo e um tanto abandonado, pois não conseguia me comunicar com alguém.

Esse era o meu desespero.

Uma vez morto em sonho, é claro, sai pelas ruas que me eram familiares, dirigindo-me para um bar aonde trabalhava um amigo meu, era o Alci, e o mesmo era alfaiate e não um Barman.

Chegando ao bar, provoquei o meu amigo para que ele me jogasse um copo de café quente, e assim, provaria para mim mesmo que estava morto, pois o café não iria me pegar e nem me queimar, e o meu amigo Alci ficaria assustado com a minha assombração. (o meu fantasma)

Na verdade, quem ficou assombrado fui eu, pois o café me molhou toda as costas e estava frio.

Sai daquele bar um tanto chateado.

Pareceu-me até que eu estava embriagado.

Naquele momento estava trajando uma bermuda com uma blusa bastante grossa, o que achei de certa forma esquisito.

Nunca havia me trajado daquele jeito.

Bom! Continuei a caminhar em direção à minha casa, quando lá cheguei, o meu espanto foi ainda maior.

Antes de chegar em casa, passei no bar da Madepesca que ficava próximo, lá chegando comprei um Carlton, paguei e esperei o troco.

Mas a moça me informou que, o cigarro tinha subido de preço e que já estava custando R$ 5, 00.

 Isso dito, eu fui embora.

A minha casa estava cheia de parentes, assim como quando morre alguém da família.

Notei que estavam tristes, mas todos estavam trabalhando e nem notaram a minha presença ali.

Acho que não me viram ou não podiam me ver.

Imaginei com os meus botões, devo estar morto mesmo.

Sem sentir a acolhida de todos, sentei-me à beira de um fogão desses à lenha.

E ali sentado numa cadeirinha que também me era familiar, notei ainda que, mesmo assim, eles não me davam bolas.

Diante de tamanha indiferença, afirmei um tanto confuso em voz alta, mas não sei se eles me ouviram, mas eu disse o seguinte: “É ruim a gente não ter experiência de morrer”!

Eráclito.

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 04/12/2006
Reeditado em 09/06/2007
Código do texto: T309444