Metamorfose
Ela subia a trilha.
Seguia ofegante a voz dos colegas quase inaudível. Já não bastara a humilhação que sofrera lá embaixo, na cachoeira, quando dissera que esqueçera o biquíni. Agora, deixavam-na para trás. Suas pernas brancas e delgadas tremiam entre pedras e fendas, seu coração palpitava entre os minúsculos seios que abrigavam um vale de suor.
De repente, deparou com dois caminhos. Por qual deles deveria continuar, o direito ou o esquerdo? Aguçou os ouvidos, tentando perceber de qual lado vinha o murmúrio da turma. Ouviu alguém caçoar – a magricela ficou para trás, a magricela ficou para trás...- seguido de uma gargalhada, mas não discerniu a direção.
Subitamente, um som de guizo ou de chocalho despertou-a de sua concentração: havia uma cobra no meio do caminho. Em suas retinas, brilhou a sinuosidade do animal viperino. Assustada, revezou-se entre as aulas de biologia e as de religião: era triangular a cabeça da venenosa?..."Porei inimizade entre ti e a mulher, tu lhe machucarás a cabeça e ela te machucará o calcanhar.” Esta última frase a fez recuar um pouco e, entre o movimento e o passo, subiu-lhe uma ventania, enroscando pelas pernas, levantando a saia de colegial que rodeava os membros tão finos. Num gesto rápido, abrigou o tecido entre as coxas. Lembrou-se, então, da crendice de sua avó: - é só torcer a saia que a víbora foge -. Embora fosse apenas menina, apertou fortemente o grosso tergal com os dedos trêmulos. A serpente ergueu-se. Ereta e com o prolongamento da língua parecia maior. Nesse momento, a jovem sentiu uma imensa contração abdominal e, ao abrir os olhos, viu apenas a pequena calda, deixando o rastro entre os arbustos.
Suspirando aliviada, percebeu a mão ensopada de um líquido vermelho e viscoso. Com a cobra ainda brilhando nos olhos, deu meia-volta, desceu correndo a montanha e pulou no rio que a recebeu de braços abertos.
OBS. Esta crônica também está em áudio, gravado por mim, com alguns arranjos sonoros. Você pode ouvi-la clicando aqui.
Wellington P, Coelho
Ela subia a trilha.
Seguia ofegante a voz dos colegas quase inaudível. Já não bastara a humilhação que sofrera lá embaixo, na cachoeira, quando dissera que esqueçera o biquíni. Agora, deixavam-na para trás. Suas pernas brancas e delgadas tremiam entre pedras e fendas, seu coração palpitava entre os minúsculos seios que abrigavam um vale de suor.
De repente, deparou com dois caminhos. Por qual deles deveria continuar, o direito ou o esquerdo? Aguçou os ouvidos, tentando perceber de qual lado vinha o murmúrio da turma. Ouviu alguém caçoar – a magricela ficou para trás, a magricela ficou para trás...- seguido de uma gargalhada, mas não discerniu a direção.
Subitamente, um som de guizo ou de chocalho despertou-a de sua concentração: havia uma cobra no meio do caminho. Em suas retinas, brilhou a sinuosidade do animal viperino. Assustada, revezou-se entre as aulas de biologia e as de religião: era triangular a cabeça da venenosa?..."Porei inimizade entre ti e a mulher, tu lhe machucarás a cabeça e ela te machucará o calcanhar.” Esta última frase a fez recuar um pouco e, entre o movimento e o passo, subiu-lhe uma ventania, enroscando pelas pernas, levantando a saia de colegial que rodeava os membros tão finos. Num gesto rápido, abrigou o tecido entre as coxas. Lembrou-se, então, da crendice de sua avó: - é só torcer a saia que a víbora foge -. Embora fosse apenas menina, apertou fortemente o grosso tergal com os dedos trêmulos. A serpente ergueu-se. Ereta e com o prolongamento da língua parecia maior. Nesse momento, a jovem sentiu uma imensa contração abdominal e, ao abrir os olhos, viu apenas a pequena calda, deixando o rastro entre os arbustos.
Suspirando aliviada, percebeu a mão ensopada de um líquido vermelho e viscoso. Com a cobra ainda brilhando nos olhos, deu meia-volta, desceu correndo a montanha e pulou no rio que a recebeu de braços abertos.
OBS. Esta crônica também está em áudio, gravado por mim, com alguns arranjos sonoros. Você pode ouvi-la clicando aqui.
Wellington P, Coelho