UM CASO MACABRO
Sempre se ouve dizer que a temível depressão mata. Infelizmente isso é uma verdade incontestável. E tudo pelo que tudo indica, ela age como uma faca de dois gumes. Por exemplo, se a sua vítima não tiver a covardia de cometer o suicídio, não se sabe como, termina encontrando "coragem" para pagar a alguém a cometer o seu assassinato. É algo insólito, mas acontece. Como assim? Perguntará alguém. Sim, existe, senão vejamos este caso verídico recente, ocorrido no interior de Minas Gerais.
Uma advogada, de 36 anos, sofrendo de uma terrível e profunda depressão, teve o desplante de contratar, aleatoriamente, um matador de aluguel para que que o mesmo a matasse. Inclusive, para este macabro fato, escolheu até o local e a maneira como tal funesto ato seria cometido.
A vítima em questão levava uma vida normal até aos 28 anos, aproximadamente, quando já depois de formada e casada, ficou sabendo que ela era uma filha adotiva. A sua frustração foi imediata. Caiu como uma bomba em sua triste vida. E a partir desse momento, uma súbita depressão tomou conta do ser, a estas alturas já debilitado tanto físico quanto psicológicamente, como sempre acontece em momentos assim. Tudo ficou sem sentido, sem gosto, sem prazer pra nada.
Para completar o seu dilema, o seu marido, alegando outros problemas particulares, pediu a separação, portanto, à sua revelia. Aí foi a gota d'água. Começou a se definhar, ao mesmo tempo que procurava, simultaneamente, um memio de por um fim trágico em sua vida muito insossa e frágil. A primeira ideia foi o suicídio. Mas tomar tal atitude extrema, além da covardia, era necessário também ter muita coragem. E nada disto ela tinha. Até que, certo dia, tomou outra atitude horrível e inusitada: sacou todas as suas economias e com o dinheiro em mãos, pensou: "Já que não posso me matar, pelo menos posso pagar alguém para fazer isto!!"
E com tal pensamento fatídico foi à luta, em busca do seu fim. Na rua mesmo, conversando com desconhecidos em lugares suspeitos, não foi difícil ser apresentada ao seu algoz: um matador de aluguel. E o primeiro diálgo foi sucinto e objetivo:
- Quanto você cobra para matar uma pessoa?
- Costumo cobrar de quinze a vinte mil reais. Depende muito do caso. Mas fica nesta faixa. Sem complicação. E paft-puft. É pegar ou largar.
- Tudo bem. Vou falar o dia, a hora e o local, tudo bem?
- Tudo bem nada. Primeiro o nome do futuro presunto, depois a primeira parte na minha mão e segunda, logo após o fato consumado. Então, quem é a pessoa?
- Está falando com a própria!
- Ah, bem vi que era uma brincadeira. Isto é uma pegadinha de televisão?
- Não, moço, estou falando sério. Preciso e quero que você tire a minha vida e para isto eu vou lhe pagar, antecipadamente. Porque depois não tem como você receber. Pois, logo do fato consumado, com você falou, não encontrará ninguém para falar da minha pessoa.
- Você então é doida, maluca ou algo pior!...
- Não é nada disto. Estou falando sério. Só tem um detalhe: logo que me matar, precisa apenas queimar o meu carro. Combinado?
- É só passar a grana e falar o dia, a hora e o local!
- O dia, a hora e o local eu posso falar. Mas, a grana só um minuto antes de você apertar o gatilho. Não tente se evadir na última hora, porque você está conversando com uma advogada, entendeu?
- Você quer dizer, ex-advogada!
- Como queira.
Após esta conversa macabra, o dia, a hora e o local foram apalavrados. E o serviço executado e obviamente paga, conforme o combinado, minutos antes da execução.
Sem deixar vestígiio, o assassina cumpriu o acordo e tocou fogo no veículo, antes porém, como havia combindo com um parceiro que permanecia de tocaia e já preparado, depenou o carrinho bem equipado, deixando só a carcaça, o que foi até mais fácil de incendiar. Enquanto o corpo da vítima ficou estirado ali num matagal próximo, o qual logo foi encontrado por algum curioso e, posteriormente, o fato foi desvendado. Pelo menos, em parte.
É a vida! É a morte! Vamos fazer o quê?
João Bosco de Andrade Araújo