ZÉ MELÃO

Zé Melão gostava de passar bastante extrato pelo corpo nos passeios de domingo. O pai sempre dizia que era extrato de mais, que homem não devia ficar assim todo perfumoso.

A senhora Dionísia Melão, esposa de Tibúrcio Melão, mãe de Zé melão e de uma penca de outros Melões, era quem presenteava o filho mais novo com os extratos.

Dizia a senhora Melão que a vida precisava ser perfumada pelas pessoas, pois a vida não tinha cheiro que prestasse. Na verdade Zé Melão era o único dos 14 melões que gostava dos extratos.

Contando com pai e mãe eram 16 Melões. E se não eram mais não foi por falta de empenho deles dois. Alguns Melões não vingaram, mas em compensação houve safra de se colher de 3 a 4 melões numa barrigada só.

Os irmãos de Zé Melão não gostavam dele, sempre davam um jeito de aperrear o juízo do mais novo dos melões. Certa feita trocaram o conteúdo de todos os vidros de extrato por mijo de bode.

Zé Melão nunca esqueceria o domingo em que tomou banho de mijo de bode. Não saiu naquele domingo para encontrar Ledinha, sua amada Ledinha. Foi na tina de banho tendo o corpo esfolado pela bucha que sua dedicada mãe esfregava em seu corpo minguado que passou a tarde daquele dia.

As lágrimas de mãinha juntavam-se as de Zé Melão nas águas da tina. Ela esfregava o corpo de seu predileto filho e se perguntava porque aquela maldade praticada pelos irmãos.

Todos eram culpados. A idéia de trocar os extratos perfumosos por mijo de bode partiu de Tinoco, um dos trigêmeos. Tinoco, Tinoco e Tinoco. Todos os Melões trigêmeos e quadrigêmeos receberam os mesmos nomes.

Qual Tinoco teve a idéia eu não sei, eram trigêmeos do mesmo ovo, mas todos concordaram imediatamente com a idéia de banhar o abichado com mijo de bode. Nada era trabalhoso ou nojento de mais, dês de que fosse para maltratar Zé Melão, o abichado.

Zé Melão já não sabia se chorava de ódio dos irmãos, se chorava por não ir ao encontro de sua amada Ledinha, se chorava de tristeza ou dor, pois seu corpo sangrava de tanto que a mãe esfregava.

De um salto Zé Melão saiu da tina. Tão rápido quanto um corisco sua mãe fechou os olhos pra não ver nudez do filho. Já enrolado em seu pano Zé Melão ajoelhado aos pés da mãe querida pergunta: -Porque mãinha, porque meus irmãos não gostam de mim?

Porque tanto me judiam, falam coisas do meu jeito, e me chamam de abichado. Porque sou assim odiado? O que foi que fiz de errado? Até painho de mim é separado, sempre prefere eles, nunca me quer a seu lado.

Dionísia Melão olhava ente lágrimas para o olhar entre lágrimas de seu filho caçula Zé melão ajoelhado a seus pés. O choro calado deu lugar ao choro desesperado. Dionísia Melão era a única que sabia que tinha uma filha.










 
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 29/06/2011
Reeditado em 07/10/2011
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