ACHI§MO§

Fulana nasceu e acharam que seria Fulano.

Achavam que sorria enquanto dormia.

Achavam que chorava demais.

Fulana cresceu em meio às dúvidas

e começou a achar que era incomum...

Achava-se obesa e desprovida verticalmente.

Achava que todos a olhavam de rabo de olho.

Achava que o menino dos seus sonhos nem sabia da sua existência

E tinha razão...

Começou achar que o mundo conspirava contra ela.

Achou bonita as poesias de Drummond,

mas também as achou complicadas,

assim como os desenhos de Escher.

Achava que cursaria medicina,

achou que passaria,

achou melhor se adaptar ao Serviço Social.

Seu analista a achava normal e ela o achou estranho.

Achava que ele lhe escondia algo que ela achou que existisse

E achou por bem interromper a análise.

Achava que a descoberta da Relatividade era de Sartre,

achou que Gandhi achava que Deus estava morto.

Acharam-na confusa

E Fulana achou por bem concordar com a hipótese.

Acharia a solução de seus problemas se achasse uma forma mais simples de resolvê-los.

Achava difícil encontrar um caminho,

achava-se desorientada,

achava que tinha opinião própria,

mas na realidade os outros é que achavam por ela.

Por muito tempo achou que estava tudo bem.

Achou seu espaço na cidade onde vivia,

mas não achou seu lugar no mundo.

Achava que teria filhos,

achava que não acreditavam nela,

achava que por mais que dissessem que a vida era breve,

achou que para ela o tempo seria complacente

E ele não foi...

Achou graça!

Talvez fosse a única coisa que lhe restasse a achar...

Quando se deu conta do tanto que havia achado

Descobriu que na realidade havia se perdido

e nunca mais a acharam...

Umile Romano
Enviado por Umile Romano em 22/06/2011
Reeditado em 24/06/2011
Código do texto: T3051581
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